Título: Ações da BM&F sobem 22% na estréia na Bolsa
Autor: Novo, Aguinaldo; Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 01/12/2007, Economia, p. 44

Grande movimentação dos papéis, 25% do total do pregão, causa pane no sistema de negociação da Bovespa

SÃO PAULO e RIO. As ações da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) estrearam ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) com forte alta: cotadas inicialmente a R$20, os papéis encerraram o pregão a R$24,40, o que representou alta de 22%. O desempenho ficou abaixo do registrado pela Bovespa Holding, empresa criada para a abertura de capital da bolsa, que subiu 52% em seu primeiro dia de negociação. Com o elevado número de ordens de compra e de venda de ações da BM&F por investidores já no início dos negócios, o sistema de negociações da Bovespa, o Megabolsa, sofreu uma pane. A ação movimentou R$2,612 bilhões, 24,8% de todo o giro da bolsa no dia, também expressivo por conta dessa estréia: R$10,644 bilhões.

A oferta pública de ações da BM&F, quarta maior bolsa de mercados e futuros do mundo, atingiu R$5,9 bilhões, a segunda maior operação do gênero no Brasil. Só perde para a da Bovespa Holding, em outubro, que movimentou R$6,6 bilhões. Com a sobrecarga ontem, o Megabolsa teve o funcionamento afetado por mais de uma hora. Segundo corretores, o sistema ficou totalmente fora do ar por mais de 20 minutos e, depois, voltou a operar de forma lenta durante todo o dia, o que prejudicou não apenas os negócios com os papéis da BM&F, mas também das outras ações.

Parte do problema, segundo corretores, poderia ser atribuído ao rateio de ações determinado pela BM&F para os investidores pessoa física. Eles puderam reservar apenas 91 ações, o correspondente a um investimento individual de R$1.820. Assim, a expectativa é que eles tentassem comprar no mercado o que não conseguiram na oferta pública inicial. Como o número de ações não atingiu as cem necessárias pra formar um lote-padrão, as negociações tiveram de ser feitas no mercado fracionário, mas a bolsa garantiu que não há prejuízo para o investidor.

"Hoje (ontem), o maior tempo de resposta do sistema foi devido ao extraordinário afluxo de ofertas com quantidade mínima de ações, detidas por um número - igualmente inusitado - de investidores. O leilão gerou três vezes mais negócios do que o recorde anterior de abertura de um único papel", disse a Bovespa em comunicado oficial.

Números preliminares indicam que a oferta teria registrado a participação de mais de 200 mil CPFs, contra pouco mais de 63,9 mil pessoas físicas no caso da Bovespa Holding. Os números oficiais serão conhecidos na próxima semana. O número de negócios com as ações da BM&F no mercado fracionário - normalmente menos movimentado - chegou a 75.268, enquanto os com lotes-padrão, de cem ações, foi de 58.313.

- É a coroação bem-sucedida de um trabalho de quase dois anos e completa um ciclo virtuoso, um mês após o IPO (sigla em inglês para oferta pública inicial) da Bovespa - afirmou o presidente da BM&F, Manoel Felix Cintra Neto.

Também presente ao lançamento, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que o dia era simbólico.

- Marca a chegada do Brasil à economia moderna, do capital democrático - disse.

Bolsa sobe 1,37% e volta a superar os 63 mil pontos

Meirelles confirmou que o Conselho Monetário Nacional (CMN) fará uma reunião extraordinária na próxima semana para aprovar nova regulamentação para as tarifas bancárias. Segundo ele, a intenção é estabelecer um padrão que ajude "o consumidor a escolher a tarifa mais barata". O projeto reduz o número de tarifas das atuais 55 para no máximo 25 e acaba com a cobrança para a abertura de crédito e para liquidação antecipada de financiamento, entre outras mudanças.

O principal indicador da Bolsa, o Ibovespa, teve alta de 1,37% ontem, voltando a superar os 63 mil pontos, exatos 63.006 no fechamento dos negócios. O dólar comercial teve queda de 0,06%, para R$1,794. O risco-país recuou 2,61%, para 224 pontos centesimais.