Título: Lula se diz contrário a remoções em favelas
Autor: Amora, Dimmi; Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 01/12/2007, Rio, p. 34

Segundo presidente, que lançou programa no Cantagalo, beneficiados não serão retirados por "governador enxerido".

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem de manhã, durante o lançamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Morro do Cantagalo, em Ipanema, que é contra a remoção de moradores de favelas.

- Todo mundo que não tem o título da sua terra vai ter o título, para que tenha certeza de que o terreno é seu e não virá nenhum prefeito, nenhum governador enxerido mandar a polícia tirar os companheiros de lá - disse Lula.

Ele elogiou a iniciativa do governador Sérgio Cabral, que assegurou que todos os moradores ganharão título de posse dos imóveis. O ministro das Cidades, Márcio Fortes, afirmou que outras comunidades, como Andaraí e Jacarezinho, poderão ser beneficiadas se o governo tiver recursos. Cabral, que acompanhou Lula na solenidade, prometeu dar os títulos no dia da inauguração das obras do Complexo Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, que vão custar 35, 2 milhões. Outras seis comunidades receberão também recursos do PAC, num total de R$1,2 bilhão, para obras de reurbanização. No primeiro local beneficiado, será criado um elevador ligando a favela à estação Cantagalo do metrô. Além disso, serão construídos dois quilômetros de novas vias de acesso e haverá obras de saneamento básico e implantação de rede de água. Duzentos e seis famílias serão reassentadas em novos prédios. Também serão reformados praças e outros equipamentos de lazer.

- São R$40 bilhões no Brasil inteiro. Em breve, vamos começar obras grandes no Complexo do Alemão e em Manguinhos. Acho que, se não se fizer isso, não conseguiremos combater sequer a violência. Essas obras são parte de um conjunto de medidas que visam a diminuir a violência nos lugares mais pobres do Rio de Janeiro - disse Lula.

Lula: a maioria do povo quer viver em paz

O presidente também disse que a violência na cidade não é tão grave assim:

- Eu acho que não é justo o Rio de Janeiro aparecer na imprensa nacional apenas nas páginas policiais. Não é normal e não é justo. Ora, é verdade que tem bandido, mas bandido tem em qualquer lugar do mundo. A maioria, 99% do povo do Rio de Janeiro, é um povo que quer trabalhar, que quer estudar, que quer viver em paz. Mas, do jeito que aparece, às vezes, parece que tudo aqui está uma desgraceira só, quando não está.

Durante a cerimônia, na qual o presidente acionou o botão de uma máquina de fincar estacas, o clima era de tranqüilidade no Cantagalo. Por causa da proibição de circulação de carros, os moradores tiveram que subir e descer o morro a pé durante boa parte do dia. Alunos do Ciep João Goulart, que precisavam passar pela área restrita, tiveram mochilas revistadas. As vielas também foram ocupadas por agentes do esquema de proteção, que incluía não só policiais civis, como PMs, agentes da Polícia Federal e do Exército.

Mesmo com todo o aparato, Lula não circulou por áreas abertas da comunidade. O presidente chegou ao Espaço Criança Esperança, onde foi realizada a cerimônia, dentro de um carro blindado e com vidros escuros. Ele foi recebido pela bateria da escola de samba Alegria da Zona Sul, com sede no morro, e por crianças que agitavam bandeirinhas. Lula abraçou líderes comunitários das duas favelas e até ajudou um deles, Marcos Antonio Silva de Carvalho, a ajeitar o terno para a fotografia.

- Tem gente chique no Brasil que consegue transformar uma moradia no morro numa atração turística. Rico quando mora em morro é chique. Pobre é favela, é vergonha - discursou o presidente.

Várias pessoas pediram ao presidente a inclusão de suas comunidades no PAC. Entre elas, estava um grupo do Morro do Andaraí. Lula e Cabral disseram que a comunidade, assim como Jacarezinho e Complexo da Penha, poderão ser beneficiadas. A promessa, contudo, vai esbarrar no orçamento, que, segundo o ministro Márcio Fortes, não tem recursos garantidos para novos empreendimentos. De acordo com ele, somente se houver sobra de recursos orçamentários nos próximos anos, novas obras poderão ser realizadas.