Título: Sem maioria, Múcio pede a Lula que entre em campo para salvar a CPMF
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 04/12/2007, O País, p. 4

BARGANHAS NO CONGRESSO: Mantega diz que fim do tributo pode repercutir mal.

Presidente se compromete a receber senadores no Planalto para negociar.

BRASÍLIA. As articulações para aprovar a prorrogação da CPMF no Senado entraram numa fase crítica, e o governo deverá usar todas as armas para tentar alterar um cenário negativo. A estratégia decidida ontem, na reunião de coordenação de governo, inclui a realização de grande evento para o lançamento do PAC da Saúde, amanhã no Planalto, além de conversas do presidente Lula com senadores governistas dissidentes, atendimentos de pleitos dos aliados e argumentos econômicos.

A situação é tão dramática que, na reunião da coordenação de ontem, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, fez um apelo para que o presidente cancele a viagem a três países sul-americanos, neste fim de semana, para ajudar nas negociações.

Múcio: "O momento é de preocupação"

Na reunião, ao defender a prorrogação do imposto do cheque, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez nova carga. Argumentou que a rejeição da CPMF pode ser um sinal negativo para o mercado. Segundo Mantega, algumas agências de análise de risco podem afastar o Brasil da faixa dos países seguros para investimento - o chamado investment grade.

- O momento é de preocupação e responsabilidade: não podemos fazer política com o nosso destino. Ninguém gosta de imposto, mas a CPMF é uma necessidade do país. Quem está no governo sabe que não podemos prescindir desse dinheiro - disse Múcio, referindo-se aos R$40 bilhões anuais da CPMF.

O governo admite que ainda não tem os 49 votos necessários para aprovar a CPMF. Embora os partidos governistas somem 53 senadores, pelo menos cinco já declararam que votarão contra a proposta. Ainda há os que têm dúvidas.

- O presidente Lula conhece as preocupações, conhece as maiores dificuldades e vai ajudar - disse Múcio.

Lula, porém, disse que não cancelará a agenda na Argentina, na Bolívia e na Venezuela. Comprometeu-se, porém, a telefonar e receber senadores no Palácio do Planalto esta semana. Na lista dos que serão procurados por Lula estão: Expedito Júnior (PR-RO), César Borges (PR-BA), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), Romeu Tuma (PTB-SP) e Pedro Simon (PMDB-RS). Lula deverá se encontrar com os três senadores gaúchos - além de Simon, Paulo Paim (PT) e Sérgio Zambiazi (PTB) - para tratar de alternativas para a difícil situação financeira do estado.

Senadores do DEM temem perder mandato

O governo está enfrentando dificuldades também para obter o voto de senadores que mudaram de partido, como Borges e Tuma. Os dois deixaram o DEM e temem perder o mandato devido a ações do partido na Justiça, se votarem com o governo.

O governo acredita que poderá somar apoios à CPMF no lançamento do PAC da Saúde, amanhã, com a presença de governadores em Brasília. O programa prevê mais R$24 bilhões para a saúde, até 2011, boa parte saída da arrecadação da CPMF. O Planalto argumenta que, sem a CPMF, estados e municípios perderão repasses em programas sociais e da saúde.