Título: Presos são acorrentados fora de cela em SC
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Fonte: O Globo, 04/12/2007, O País, p. 8

Por falta de espaço, cinco homens estão amarrados a colunas na porta da delegacia de Palhoça desde sexta-feira.

PALHOÇA (SC). Desde sexta-feira à noite, cinco homens estão amarrados com correntes em colunas da delegacia de Palhoça, na Grande Florianópolis, e sem reclamar. Acham que pior seria ficar dentro da cela, onde 17 presos ocupam uma área que deveria abrigar apenas quatro.

Na tarde de domingo, a situação era pior. Seis presos ocupavam as colunas próximas à garagem, e dois fugiram. Um deles retornou poucas horas depois, por furtar um supermercado. Recebeu, de punição, uma corrente extra, que prende suas mãos ao concreto. Os outros quatro detentos continuam com os pés acorrentados e presos por frágeis cadeados.

- Se forçar, o cadeado arrebenta. Não fujo porque não vale a pena - disse um dos homens, detido por furtar uma moto.

Eles passam o dia sentados, pedem autorização para ir ao banheiro e não tomam banho. À noite, fazem as necessidades em garrafas e sacos plásticos. Ainda assim, se consideram sortudos porque, pelo menos, têm ar puro. Dentro da cela, 17 homens se amontoam junto à porta lutando por uma brisa. Lá dentro, o ar é tão abafado que o único ventilador foi instalado virado para fora, numa tentativa de eliminar o cheiro de suor e a poeira. Os presos dormem uns por cima dos outros e três deles dividem o vaso sanitário.

- Tem muito preso doente aqui dentro, até com sífilis. Num ambiente desse, querem que a gente se recupere como? - pergunta um detento, com o rosto na grade enferrujada.

Marinho, da OAB: trancados e amarrados como cachorros

Por lei, os presos deveriam ficar na delegacia apenas enquanto é feito o flagrante, o que deveria durar horas. Em Palhoça, porém, um detento diz que está ali há mais de 80 dias. Para a delegada Andréa Pacheco, a situação está insustentável. Em alguns dias, até cinco novos detentos chegam à delegacia e, no verão, o número deve crescer com o aumento da população das praias da Pinheira e da Guarda do Embaú. Em toda a Grande Florianópolis, 250 pessoas estão presas em delegacias, 12% do total de presos.

Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SC, Dórian Ribas Marinho, a polícia também é vítima da situação, e a superlotação só será resolvida com penas alternativas, como em outros países. Prender quem comete pequenos delitos, para ele, não resolve a crise da segurança pública:

- Quem fica trancado e amarrado como cachorro, sofrendo constrangimento e violência, pode se recuperar?

Lucas Amorim, da Agência RBS