Título: Do alto da majestade
Autor: Corrêa, Maurício
Fonte: Correio Braziliense, 19/04/2009, Opinião, p. 21

Homens maduros costumam dizer que dariam o mundo para voltar a ser jovens se fosse possível reverter o tempo. Levariam com eles as experiências vividas. Não cometeriam os excessos dos moços em noitadas, bebidas, tabagismo, quando não no uso de drogas. Optariam por resguardar um futuro saudável e seguro. Nem todos os jovens exacerbam os seus modos de vida, mas é certo que muitos deles não agem com a moderação devida. Esquecem-se de que essas condutas, muito comuns nos jovens, são perniciosas à saúde. Mais tarde, não adianta se arrependerem. Os danos causados podem ser irreversíveis. Os que assim se comportam não gostam de ser advertidos do mal em que incidem. As sequelas da vida desregrada certamente se responsabilizarão pelos riscos do amanhã. Não é preciso ser médico para saber que atitudes comportamentais dessa natureza prejudicam a saúde.

É costume nos países orientais e entre tribos indígenas das Américas, da África e da Oceania, quando não em outras regiões do planeta, a instituição de conselhos comunitários de anciãos, cuja finalidade é prestar orientação, sob vários aspectos, a membros das localidades em que vivem. Exercem, às vezes, até funções judicantes, chanceladas com reconhecimento oficial, com a incumbência de dirimir conflitos entre partes em desavença. A própria Bíblia dá exemplos nesse mesmo sentido. O costume não deixa de ter lá sua lógica. Pessoas mais velhas, com experiências acumuladas de vida, de um modo geral são mais aptas para o desempenho desse tipo de tarefa. Por isso, são convocadas para o mister.

Na medida em que ficamos mais velhos, muitas coisas do que fizemos certamente não tornaríamos a fazer. Os erros devem servir de lição de aprendizado permanente. É com pancadas daqui e dali que se aprende a viver. Isso não quer dizer que gente velha também não erre e não reincida no erro. Para valer de uma metáfora, todos nós devíamos manter um caderno simbólico de anotações, no qual registraríamos as falhas cometidas. Quem nunca as cometeu que levante o braço. É preciso sempre prestar atenção para não voltar a praticá-las. Assim deve ser levada a vida. Quem não seguir a máxima poderá continuar a incidir no erro.

Falei no início sobre jovens. Tenho como correto o que disse. Para que o país tenha jovens sadios, seria bom que não se excedessem em permissividades. Tornar-se-iam velhos de boa forma física e mental. No que me toca, embora com meus janeiros vividos, não me sinto velho. Não consigo ficar parado. Voltei à velha profissão, reinscrevi-me na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e advogo. Estou de pasta na mão e na luta. Penso que a inatividade, aqui entendida no sentido vernacular de falta de movimento, não é salutar. Recomenda-se que não só se deve exercitar o corpo como também a mente. Esta se ficar inerte é presa fácil de doenças. Os neurônios sem função ativa esmaecem. Perdem a higidez molecular. O cérebro exige ação.

Os advogados sofrem no dia a dia forense. Tenho certeza de que ninguém se queixa porque levanta cedo, sua a camisa ou trabalha muito. O desmesurado formalismo processual é sempre objeto de protestos. Mas as queixas mais comuns são contra juízes. É frequente o advogado falar mal do juiz em comentários reservados com colegas, nunca os criticando em público. Quando chega a esse extremo, prefere utilizar-se do meio adequado, que é representação às corregedorias. Há temor de que, quem falar mal do juiz, põe em risco o destino da causa que patrocina. Ninguém gosta de perdê-la. Uma coisa é certa. Juiz de quem os advogados falam mal não fica com boa reputação. O primeiro instrumento de trabalho dos advogados é a palavra. Não pretendo dizer que sejam uns línguas de trapos. Algo deve justificar para que falem mal de alguns juízes.

Há juízes que não gostam de advogados. Acham que são por demais incomodativos. Recusam-se a recebê-los, embora sejam, por lei, obrigados a fazê-lo. A exceção é imperativa. Não são todos os juízes que agem dessa forma. A esmagadora maioria atende bem as partes. Há juízes que padecem de certa doença denominada no jargão forense de juizite. São extremamente formais, mais do que a lei permite, são exigentes em demasia, e primam em ameaçar de prisão advogados, quando não os prendem em flagrante, se estes, por algo compreensível e tolerável, desbordam do direito de pedir ou de peticionar. A não ser por algum procedimento incompatível com o exercício profissional, no mais das vezes, condutas irregulares de advogados se resolvem por meio de representação dirigida ao órgão local da OAB.

Se me fosse permitido dizer, diria que tenho observado que há até membros de tribunais superiores que fogem de advogados como se estes fossem párias da comunidade forense. Colocam-se num patamar de grandeza que parecem potestades divinas. Quem sou eu para lhes dar conselhos. Nem me atreveria a tanto. Lembraria apenas que a arrogância, a petulância, o achar-se acima de tudo e de todos não leva a nada. Não perde a dignidade da toga o juiz que aceita o advogado como parte da Justiça e o respeita. A simplicidade faz bem à magistratura. Tão bom seria que descessem da majestade em que se encontram. Um dia poderão ver que foram uns tolos.