Título: Esperança de vida sobe; homicídios dobram
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 04/12/2007, O País, p. 10

IBGE mostra que expectativa cresceu mais de 17 anos desde 1960, enquanto violência duplicou em duas décadas.

Os brasileiros que nasceram em 2006 tinham a expectativa de viver 17 anos, oito meses e um dia a mais do que aqueles que vieram ao mundo em 1960. O estudo Tábuas Completas de Mortalidade, divulgado ontem pelo IBGE, mostra que a expectativa de vida no país no ano passado era de 72,3 anos, contra 54,6 anos em 1960. O indicador manteve a tendência de subida - em 2005, era de 71,9 anos. A mortalidade infantil, aponta a pesquisa, continua caindo. De 1980 para o ano passado, saiu de 69,1 mortes por mil nascidos vivos para 24,9, queda de 64%.

As boas notícias, no entanto, escondem um dado macabro: a esperança de vida só não é maior por causa do aumento dos homicídios, que atingem em cheio os homens jovens. De 1980 para 2005, a proporção de homicídios no total de mortes masculinas aumentou de 19,8% para 37,1%.

- Muitos homens morrem na faixa etária de 20 a 24 anos. Sem a violência, a expectativa de vida sem dúvida seria bem maior - atesta Antônio Roberto Pereira Garcez, técnico da Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE.

Homens têm morte violenta

Em 2005, 41,2% dos homicídios vitimaram jovens do sexo masculino entre 20 e 29 anos (um total de 17.635). Para as jovens, o percentual foi de 30,6% (em números absolutos, 1.165). Do total de mortes violentas em 2005, 83,5% (105.062) atingiram homens. O percentual é maior quando o universo são as causas externas - que incluem, além do homicídio, acidentes de trânsito, suicídios e outras causas - e os jovens entre 20 e 29 anos: nesse caso, os homens são vítimas de 90% das mortes.

Os dados, segundo Pereira Garcez, explicam o crescimento maior da esperança de vida entre as mulheres do que entre os homens. Em 46 anos, o índice cresceu 35,5% para o sexo feminino - chegando a 76,1 anos - contra 68,5 anos para o masculino (28,9% de crescimento).

O aumento da expectativa de vida, afirma o IBGE, pode ser explicado pela maior amplitude dos serviços de saúde, pelas campanhas de vacinação, pela maior escolaridade e pelos avanços da medicina. O acesso desigual a esses benefícios, porém, ajuda a explicar a distorção entre os estados. Na pesquisa, o IBGE usou dados do Registro Civil e do Ministério da Saúde.

Até 9 anos de diferença

Um brasileiro nascido em 2006 no Distrito Federal tinha nove anos a mais de expectativa de vida do que um nascido em Alagoas. A esperança de vida no Distrito Federal, primeiro do ranking, é de 75,1 anos, contra 66,4 anos em Alagoas. Em 1980 - quando as comparações regionais começaram a ser feitas -, o Rio Grande do Sul, com 67,8 anos, era o primeiro do ranking. E Alagoas já estava na pior posição (com 55,7 anos).

Dezesseis estados estavam, no ano passado, abaixo da média nacional. Entre esses, explica Garcez, a expectativa de vida cresceu mais.

- Mas, mesmo com os aumentos maiores, a condição de estados como o Rio Grande do Norte (que aumentou o índice em 21,5%, passando de 60 para 74) continua grave - afirma o técnico do IBGE.

Para os homens, o lugar com maior esperança de vida é Santa Catarina (71,8 anos) e a menor, Alagoas (62,4 anos ). Já para as mulheres, o Distrito Federal é o melhor (78,9 anos), enquanto, novamente, Alagoas aparece como o pior estado (70,4 anos).

No ranking da mortalidade infantil, inversamente proporcional ao da expectativa de vida, Alagoas também é o pior (com 51,9 mortes para cada mil nascidos vivos), seguido do Maranhão (taxa de 40,7). Em 2006, o estado com a menor taxa de mortalidade infantil era o Rio Grande do Sul (13,9 por mil) seguido por São Paulo (16 por mil). O Ceará conseguiu a maior redução (72,4%): passou de 111,5 mortes por mil nascidos vivos para 30,8.