Título: Atrasado para o futuro
Autor: Rodrigues, Luciana; Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 04/12/2007, Economia, p. 25

Rio cai para 4º lugar em ranking que mede aptidão de crianças para mercado de trabalho.

Urani e Blanco criaram um Índice de Aptidão para o Futuro para medir a parcela da população brasileira que tem crianças e jovens freqüentando a escola na série correta, acesso à internet e telefonia em casa e cujas famílias não têm mães precoces na adolescência. Eles constataram que só 15,82% dos lares brasileiros atendem, simultaneamente, a essas condições. No Estado do Rio, são 22,21% - ou seja, menos de um quarto dos fluminenses estão aptos para o futuro.

Gargalos na internet e no Ensino Médio

Além disso, o Rio aparece melhor na fotografia no presente do que na projeção para o futuro. Os pesquisadores do Iets também elaboraram um Índice de Condições do Presente, com base em dados de escolaridade dos adultos, renda, condições de moradia e posse de bens duráveis. O Rio ocupava o segundo lugar entre os estados brasileiros - mais bem posicionado do que no ranking que projeta o futuro.

- O Rio está vivendo mais do passado, refletido no presente de hoje, do que da capacidade de construir o futuro. A escolaridade dos adultos é boa porque temos a herança da capital. Mas quando se olha para a educação de crianças e adolescentes, a situação é pior - diz André Urani. - Da mesma forma, a qualidade da moradia, o consumo de bens duráveis e o acesso a serviços como água e luz deixam o Rio numa situação confortável pelos padrões nacionais. Mas os lares fluminenses não estão tão bem equipados com ferramentas do futuro, que são as tecnologias de informação e comunicação - completa.

O estudo de Urani e Blanco será apresentado na quinta-feira, no segundo seminário do projeto Rio Além do Petróleo, uma iniciativa do Iets com o governo estadual, financiada pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP).

Entre as condições necessárias para um jovem estar apto para o futuro, o maior gargalo - tanto no Estado do Rio, como no Brasil - é o acesso à internet no domicílio. O pesquisador Mauricio Blanco reconhece que, nesse quesito, o índice criado pelo Iets está longe do ideal, já que muitos jovens usam a internet em suas escolas, no trabalho ou em lan houses. Porém, só há estatísticas disponíveis para o acesso à rede em casa. Também chamam atenção as deficiências no Ensino Médio, destaca Blanco. É grande a incidência de jovens de 15 a 17 anos que não freqüentam a escola ou que ainda não saíram do Ensino Fundamental.

- Estamos falando de aptidão. Não se trata de garantia de sucesso no futuro, mas sim de pré-requisito. Um jovem que completa o Ensino Médio com muito atraso e que não usa a internet está condenado a entrar no mercado de trabalho pela porta dos fundos - diz Urani.

Rodrigo Baggio, diretor-executivo do Comitê para Democratização da Informática (CDI), lembra que o acesso à internet fora do domicílio cumpre um importante papel de inclusão:

- Entre as pessoas que passaram por um dos centros do CDI, 23% voltaram a estudar e 90% melhoraram seu desempenho escolar.

Na casa de Vera Lúcia Barcelos Conceição, a internet tem ajudado as crianças nos deveres da escola. Vera Lúcia trabalha preparando congelados e jantares. Há dois meses, deu um computador para seus filhos gêmeos Thiago e Thais, de 14 anos, como presente de aniversário.

- Eles sempre foram estudiosos, e o computador tem ajudado ainda mais. Minha preocupação é com o futuro profissional deles. É preciso ter muito preparo para conseguir um bom emprego - afirma Vera Lúcia.

Conhecimento e inclusão digital estão diretamente relacionados, afirma Franklin Dias Coelho, coordenador do Programa de Municípios Digitais do Estado do Rio. Coelho lembra que as escolas não conseguem mais despertar nos alunos a paixão pelo conhecimento. Porém, os jovens encontram esse entusiasmo na internet e nas tecnologias de comunicação:

- O mundo de hoje, pautado pela economia da informação, exige que o indivíduo seja um autor na produção de seu conhecimento.