Título: Heróis e vilões do planeta
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 04/12/2007, Ciência, p. 35

Austrália adere a Acordo de Kioto e EUA, isolados, tentam se explicar.

Toda novela tem um herói e um vilão em eterna disputa. Não poderia ser diferente na Convenção do Clima, em Bali, onde estas posições foram explicitamente ocupadas ontem, respectivamente, pela Austrália - cujo primeiro-ministro recém-eleito, Kevin Rudd, anunciou a assinatura do Acordo de Kioto - e pelos EUA - que, após a decisão australiana, permanece como o único grande país desenvolvido do mundo a se manter fora do tratado.

Na abertura da conferência, diante de milhares de delegados dos 190 países, o lado bom foi comemorado. O chefe da delegação australiana e principal executivo do Escritório de Combate ao Efeito Estufa do país, Howard Bamsey, foi aplaudido de pé ao anunciar oficialmente a adesão da Austrália ao acordo. O presidente do encontro, o ministro do Meio Ambiente da Indonésia, Rachmat Witoelar, agradeceu entusiasticamente o anúncio e chegou a pedir uma nova salva de palmas para o diplomata, no que foi prontamente atendido.

Poucos minutos depois, o principal negociador do Departamento de Estado dos EUA e um dos chefes da delegação americana, Harlan Watson, tentava explicar por que seu país continua fora do único compromisso global que busca evitar a catástrofe ambiental já antecipada pelos cientistas, caso nada seja feito:

- Não é nosso propósito parecer um bloqueio no caminho das negociações. Mas não achamos que o Acordo de Kioto seja eficaz para combater o aquecimento. Na verdade, poucos países ricos, com exceção do Reino Unido e da Alemanha, reduziram significativamente suas emissões. E os EUA possuem compromissos voluntários de redução.

- Então o que os EUA estão fazendo aqui? - perguntou um jornalista.

- Tomamos decisões nos EUA pensando no que é bom para os EUA e não em função da decisão dos outros. - respondeu Watson. - O que não impede de estarmos aqui buscando reformar o sistema atual e evitar o aquecimento global em soluções que envolvam outros países.

Brasil quer menos barreiras ao etanol

O secretário-executivo da 13ª conferência da Convenção de Mudança Climática das Nações Unidas, Yvo de Boer, adotou um tom realista, ontem, na abertura do encontro, ao lembrar que os combustíveis fósseis continuarão sendo as maiores fontes de geração de energia por muitos anos ainda:

- Os combustíveis fósseis estão aí para ficar e vão continuar a ser os motores do crescimento mundial. É uma responsabilidade coletiva usar estes combustíveis sem destruir o meio ambiente.

Uma alternativa seria a ampliação do uso de combustíveis menos poluentes. Nessa linha, o governo brasileiro pretende pressionar pelo fim das barreiras comerciais sobre combustíveis como o etanol - praticadas hoje por países tão distintos quanto os EUA e a China. A informação é do embaixador extraordinário de Mudanças Climáticas do Itamaraty, Sérgio Serra.

Segundo ele, não faz sentido os países discursarem sobre a necessidade de se aumentar as trocas de tecnologias limpas se, ao mesmo tempo, o protecionismo destes mesmos países constrói barreiras comerciais ao intercâmbio.