Título: Absolvição em clima de indiferença
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 05/12/2007, O País, p. 4

Ao contrário da primeira votação, não houve protestos nem brigas no Senado.

BRASÍLIA. Sem povo nas galerias e sem protestos no gramado do Congresso, o segundo julgamento da cassação do senador Renan Calheiros(PMDB-AL) transcorreu num clima morno, de conformidade com a já prevista absolvição. Bem diferente do primeiro julgamento, em setembro, quando havia a expectativa de condenação de Renan. Na ocasião, houve briga entre seguranças e parlamentares para furar o bloqueio da sessão fechada, além do clamor popular fora do Congresso.

Nos corredores do Congresso a avaliação era a de que o clima de ontem foi resultado do cansaço generalizado com o assunto, que se arrasta há meses, e a certeza de que Renan seria salvo por um acordão com os governistas, em troca da aprovação da CPMF. No cafezinho e nas rodinhas de conversas fora do microfone, o tema predominante era a sucessão de Renan.

- O tempo levou a esse ambiente insosso no Senado. Todo mundo sem brilho, falando para cumprir tabela porque o resultado já é esperado. Já começou a sucessão e a derrubada de Renan ficou em segundo plano - resumiu o líder do PSB, senador Renato Casagrande (ES).

- Estou achando os discursos muito burocráticos, como se o jogo já tivesse acontecido. Tudo muito sem emoção, cada um dá apenas seu recado da tribuna - acrescentou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).

Antes do início da sessão, apenas três parlamentares e a presidente do PSOL, Heloísa Helena manifestaram-se pela cassação. Descrentes, os representantes do PSOL exibiam dois cartazes denunciando o acordo entre Renan e os governistas para aprovar a CPMF: "Voto oculto prorroga Corporativismo Peculato Maracutaia Fisiologismo".

Nas galerias, foi vetada a entrada de populares: apenas jornalistas e funcionários do Congresso. A mulher de Renan, Verônica, acompanhou novamente o julgamento. Chegou minutos antes de Renan, entrou no Senado cercada por seguranças e não falou com jornalistas. Acompanhou tudo da tribuna de honra. Recebeu cumprimentos de senadores e deputados.

Deputados vão ao Senado para cumprimentar Renan

Renan ora ria sozinho, alheio aos pronunciamentos na tribuna, ora balançava a cabeça, em cumprimento a senadores. Permaneceu sentado em uma das bancadas, leu e releu trechos de sua fala e ficou muitas vezes isolado. Mas muitos foram até ele. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que machucou o pé e estava de cadeira de rodas, fez questão de comparecer ao julgamento e cumprimentar Renan.

- Vim pela amizade - justificou o líder peemedebista.

Outros deputados do PMDB também foram ao plenário, como o ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro (RS). E o ex-senador pernambucano Ney Maranhão, com o indefectível terno de linho branco, cumprimentou Renan. O irmão, Renildo Calheiros (PCdoB-PE), e o amigo Aldo Rebelo (PCdoB-SP) acompanharam a sessão.