Título: Em busca de votos, Lula adia viagem
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 05/12/2007, O País, p. 8

Mantega diz que, sem CPMF, estados terão de aumentar esforço fiscal.

BRASÍLIA. O agravamento do quadro político e a falta de votos no Senado para aprovar a prorrogação da CPMF até 2011 obrigou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a adiar por cinco dias a viagem à Bolívia. Lula conversou por telefone com o presidente Evo Morales e sugeriu transferir a visita àquele país do próximo dia 12 para 17. Em reunião na última segunda-feira, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, pediu que Lula cancelasse a agenda na América do Sul, na próxima semana, para entrar na negociação da CPMF.

Ministro fala em redução do superávit fiscal

Num primeiro momento, Lula resistiu, mas acabou aceitando a argumentação depois de nova conversa com Múcio, ontem. O governo contabiliza, neste momento apenas 47 votos a favor da CPMF, numa base de 53 senadores. São necessários 49 votos para aprovar a proposta. Lula manteve, no entanto, as viagens para a Argentina e a Venezuela. Os aliados querem que ele procure senadores dissidentes da base governista, como Pedro Simon (PMDB-RS), Romeu Tuma (PTB-SP), César Borges (PR-BA) e Expedito Júnior (PR-RO).

Ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acrescentou mais um elemento no receituário da pressão governista para aprovar a CPMF. Disse que, se a prorrogação for rejeitada, o governo terá que reduzir o superávit primário da União no próximo ano. Dessa forma, segundo Mantega, para cumprir a meta de 2008 - 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) - seria preciso um esforço fiscal maior dos estados, o que poderia ser feito reduzindo a autorização de gastos para os governadores.

- Ninguém imagina que nós vamos fazer o milagre de absorver uma perda de arrecadação de R$40 bilhões sem conseqüências para todos. É óbvio que haverá conseqüências para a União, para os estados, e municípios. Todo mundo vai perder, principalmente a população de baixa renda - disse.

A afirmação do ministro foi mais uma tentativa de pressionar os governadores a atuarem no Senado em favor da aprovação da CPMF:

- Os governadores do PSDB estão mostrando sensibilidade (em relação à CPMF), mas é preciso que eles se comuniquem com os senadores e transmitam isso aos senadores também - disse ele.

A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, estará hoje em Brasília para o lançamento do PAC da saúde e aproveitará para trabalhar a favor da CPMF. O governo vai aproveitar a cerimônia no Planalto, para mostrar a necessidade de prorrogação do tributo. Serão mais R$24 bilhões para a saúde até 2011, boa parte da arrecadação da CPMF.

Mantega disse ontem que o governo mantém a disposição de negociar com o PSDB e afirmou que continua apostando numa vitória do governo:

- Acredito que tudo isso será desnecessário (mudanças no superávit) porque, na reta final, vai prevalecer o bom senso e os senadores vão aprovar a CPMF. São as tensões da reta final.

Anteontem, os governadores de Minas, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra, fizeram um encontro-surpresa com o líder Arthur Virgílio (AM) e com o novo presidente do PSDB, Sérgio Guerra (CE). O encontro foi em Minas, e os governadores foram duros, segundo interlocutores, ao dizer que os estados seriam prejudicados com o fim da CPMF. Serra e Aécio ouviram que não havia condições de retomar uma negociação.

- Eu, o Serra, a governadora Yeda , Cássio, o governador Teotônio, temos conversado internamente dentro do partido, com a possibilidade de avançarmos na proposta que foi apresentada até agora. Vamos conversar até o último dia - disse Aécio.

- O governo vai é perder a CPMF. A base do governo não é sólida para nada - disse o tucano Sérgio Guerra.

COLABOROU: Chico de Gois