Título: Renan já providenciou a saída da casa oficial
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 05/12/2007, O País, p. 8

BARGANHAS NO CONGRESSO: Ao lado da mulher, Verônica, senador se disse mais leve: "Agora é só paz e amor".

Renan já providenciou a saída da casa oficial.

Em discurso de mais de uma hora, ele foi cuidadoso ao contestar relatório de Peres, e fez críticas duras a João Lyra.

BRASÍLIA. Dizendo-se aliviado, Renan Calheiros (PMDB-AL) comemorou a manutenção do mandato de senador fora da residência oficial do Senado. Antes mesmo de ler a carta renunciando à presidência, ele providenciou a mudança para o apartamento funcional. Despido das mordomias do cargo, e mostrando sintonia com a mulher, Verônica, ele disse no fim da tarde de ontem que se sente mais leve. E até arriscou uma gracinha após a absolvição:

- Agora é só paz e amor.

Depois de renunciar à presidência da Casa, Renan disse que decidiu afastar-se definitivamente do cargo para evitar que o presidente do Senado fosse julgado, e afirmou não ter dúvida de que o que estava em jogo era a cadeira de presidente.

Último orador da sessão de ontem, ele extrapolou o tempo de defesa, defendendo-se por quase uma hora. Foi cuidadoso ao contestar o relatório de Jefferson Peres (PDT-AM), que recomendava a cassação de seu mandato com base em sete indícios de que teria usado laranjas na compra de duas rádios e um jornal em Alagoas:

- Condenar alguém por suposições é um dos mais perversos erros. Ainda mais quando a pena é banir alguém da vida pública por 15 anos.

Renan é o único a não registrar o voto

Renan chegou ao plenário pouco depois da abertura da sessão tentando demonstrar tranquilidade. Cumprimentou colegas e jornalistas. Sentou-se na primeira fileira, ao lado de João Tenório (AL), de onde ouviu os discursos que se revezaram na tribuna por cerca de quatro horas e meia, ora para defendê-lo, ora para condená-lo. No fim, seguro da absolvição, anunciou que abriria mão de votar em benefício próprio. Ele foi o único entre os 81 senadores presentes a não registrar o voto.

Ao longo da sessão, depois de já ter renunciado à presidência e já informado do lançamento de candidaturas à sua sucessão, desabafou em rápida entrevista:

- Agora ficou claro que o que estava em jogo era a cadeira de presidente.

Renan assumiu a própria defesa, abrindo mão da presença do seu advogado, José Fragoso:

- Compareço, humildemente, perante o Senado Federal, para ser submetido ao julgamento livre e soberano de vossas excelências. E o faço confiando que serei julgado sem a interferência das disputas partidárias e das paixões políticas.Tenho plena convicção no sentimento de Justiça dos ilustres membros deste plenário. E é olhando nos olhos de cada um, com a firmeza de minha inocência, que peço atenção para as breves palavras que aqui pronunciarei em favor da minha defesa - iniciou.

No discurso, ataques ao adversário João Lyra

Ele tentou desqualificar a denúncia que teria como principal autor um de seus principais adversários políticos em Alagoas, o empresário João Lyra.

- A única fonte dessas falsas acusações é João Lyra. Não há um suposto indício apontado no parecer que não tenha saído da denúncia desse homem à revista "Veja" - argumentou Renan, acrescentando que está processando Lyra e a revista.

Renan não hesitou em expor mais uma vez a crise familiar que vive desde as primeiras denúncias, reclamou da invasão de privacidade a que teria sido submetido, mencionando Verônica Calheiros, que assistiu à sessão na tribuna de honra. E voltou a atacar o parecer de Peres:

- O parecer é equivocado, para não dizer indigno. Não conheço nenhuma denúncia, o que há são ilações. Como cassar um mandato por meras ilações?

Sobre a demora em decidir pela renúncia, disse:

- Quando se abre espaço para intriga e perfídia, é hora de sair.