Título: Morales quer que oposição aceite referendo
Autor:
Fonte: O Globo, 05/12/2007, O Mundo, p. 37

Consulta sobre a nova Constituição boliviana, segundo presidente, deve ser feita e acatada como na Venezuela.

LA PAZ. O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse ontem que a oposição de seu país não deve temer a realização de um referendo sobre a nova Carta magna e deve, assim como fez o governo venezuelano do presidente Hugo Chávez, se submeter a seu resultado. Morales afirmou ainda que a viagem dos governadores opositores aos Estados Unidos tem como objetivo "desmoralizar a Bolívia internacionalmente".

- Em vez de ficar tentando desmoralizar a Bolívia no exterior, os opositores deveriam agir com espírito democrático, como fez o presidente Hugo Chávez, e aceitar a realização e os resultados do referendo sobre a nova Constituição - disse o presidente. - Quem me denuncia fora do país tem ódio e desprezo pela minha condição de indígena.

Mais 70 pessoas entram em greve de fome

A realização do referendo estava prevista após o término dos trabalhos da Constituinte, mas ainda não tem data marcada por causa da crise de legitimidade do novo texto e dos episódios de violência em várias partes do país.

Morales também elogiou o referendo sobre a reforma constitucional na Venezuela e disse que o resultado é uma prova de que Chávez é um democrata.

- Se Chávez fosse um ditador, nunca teria exposto o que sente à consideração de seu povo. A forma como ele aceitou o resultado é prova definitiva de seu espírito democrático - afirmou.

O presidente boliviano é acusado pela oposição de tentar copiar o projeto de reforma constitucional venezuelana e tentar instaurar no país um regime autoritário e com a possibilidade de reeleição indefinida. A Assembléia Constituinte boliviana tem até o dia 14 para concluir a redação do novo texto constitucional e convocar o referendo, mas não decidiu ainda onde vai reinstalar suas sessões depois dos distúrbios de Sucre.

Governadores de Santa Cruz, Pando, Beni, Tarija e Cochabamba estão em Washington para se encontrar com líderes da Organização dos Estados Americanos (OEA) e denunciar o que definem como "ilegalidades cometidas pelo governo de La Paz". Na semana passada, os cinco governadores se declararam em estado de desobediência civil, conclamaram a população a fazer o mesmo e afirmaram que não vão reconhecer a nova Constituição. Um referendo sobre autonomia dos departamentos deve ser feito no dia 14 de dezembro em Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija.

- O objetivo de nossa viagem é mostrar à OEA as irregularidades e os atos ditatoriais que estão sendo cometidos pelo governo do presidente Evo Morales - disse o governador de Santa Cruz, Rubém Costas.

Ontem, pelo menos 70 líderes de quatro departamentos entraram em greve de fome contra a Constituição, juntando-se a um grupo de 100 pessoas em greve de fome há vários dias.

- Agora, somente em Santa Cruz temos 120 líderes cívicos em greve de fome em protesto contra essa nova Carta arbitrária. No total, 170 já aderiram ao movimento - disse o vice-presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Roberto Gutiérrez. - Eles dizem que só interromperão a greve se Morales recuar e desistir da Constituição.

Numa resposta à acusação de que está usando de violência contra opositores, o governo de La Paz anunciou ontem que vai convidar organizações internacionais de direitos humanos a investigar de que lado partiram os atos violentos em Sucre e em outras cidades nos últimos dias, se de forças do governo ou de opositores.

- Queremos que fique bem claro de onde estão partindo os atos violentos. Por isso, pediremos que organizações internacionais investiguem a fundo e cheguem a conclusões - disse o vice-ministro da Casa Civil, Sacha Llorenti.