Título: Cabral: minoria joga com mesquinhez
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 06/12/2007, O País, p. 3

Governador do Rio ataca senadores contrários à CPMF; Virgílio reage com críticas.

BRASÍLIA. Com dificuldades para administrar as finanças dos estados, governadores aliados e de oposição cederam às ameaças de corte nos repasses feitos pelo governo e fizeram coro ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na defesa da prorrogação da CPMF. Porta-voz dos colegas, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), fez um discurso dramático, citando o impacto social da rejeição da CPMF no Sistema Único de Saúde (SUS) e no Bolsa Família, além dos supostos reflexos negativos na economia brasileira. Os tucanos Yeda Crusius (RS), Teotonio Vilela Filho (AL) e Cássio Cunha Lima (PB) saíram do Planalto direto para o Senado, onde peregrinaram em busca de votos em suas bancadas.

Cabral disse que não estava fazendo o discurso do cavaleiro do apocalipse, mas afirmou que, se a CPMF for derrotada no Senado, no dia seguinte a economia brasileira sofrerá o impacto da decisão: o Brasil perderá credibilidade internacional, comprometendo a estabilidade da moeda, o controle da inflação e o crescimento do país. Segundo ele, não haverá dinheiro suficiente para financiar a saúde e o Bolsa Família.

- Será que não é muita mesquinharia fazer um jogo político que vai prejudicar não o presidente Lula, mas o povo brasileiro? - disse Cabral, acrescentando mais tarde:

- Pode ter uma minoria radical que joga com a mesquinhez, mas a grande maioria dos senadores joga com grandeza. Tenho certeza absoluta de que os senadores têm consciência do que representa a perda da CPMF e vão pensar no melhor para o Brasil na hora de votar.

Yeda Crusius: "Somos um partido que sempre apoiou a CPMF para fins de saúde"

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), fez um apelo ao bom senso dos senadores. Para ele, embora o prazo para a votação esteja apertado, há tempo para negociação no Senado. Campos brincou, dizendo que o jogo está nos 44 minutos do segundo tempo.

- Não podemos cortar R$40 bilhões, senão tudo o que foi apresentando aqui pode virar transparência e não realidade na vida do nosso povo. O momento não é de esticar o cabo de aço, mas de termos bom senso.

Os governadores tucanos têm argumentos na ponta da língua para tentar mudar a posição da bancada: o PSDB criou a CPMF e não tem no programa nenhuma proibição de aumento de impostos. Eles dizem ainda que o partido tem perspectiva de poder e uma decisão equivocada pode comprometer o projeto futuro.

- Os senadores têm posição e mais informações, mas nós (governadores) queremos o bem através da CPMF para todo o Brasil. O PSDB pode resgatar a idéia de destinar a arrecadação da CPMF integralmente para a saúde. Somos um partido que sempre apoiou a CPMF para fins de saúde - argumentou Yeda Crusius.

O governador da Paraíba afirmou que o PSDB está diante de uma possibilidade de cometer um equívoco, assim como Lula quando se confrontou com o Plano Real. Segundo Cunha Lima, deputados estaduais e prefeitos estão em Brasília para pressionar os senadores paraibanos a votar pela prorrogação. José Maranhão (PMDB) é voto certo a favor do imposto, mas Cícero Lucena (PSDB) e Efraim Moraes (DEM) seguem a orientação partidária. Cunha Lima desafiou a cúpula tucana.

- Se a saúde está ruim com a CPMF, ficará pior sem. Não vou fazer a política do quanto pior melhor só por causa do meu partido.

"Todos os governadores querem a CPMF", afirma o tucano Teotonio

Lembrando que Alagoas tem o mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, Teotonio disse que o dinheiro da CPMF é fundamental para manter a saúde no estado, que há pouco tempo enfrentava greve de médicos:

- Cada centavo, cada gota de suor é importante para salvar vidas de crianças que morrem como moscas em meu estado. Todos os governadores querem a CPMF.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), reagiu às críticas de Cabral:

- Quem diz o que quer, ouve o que não quer. Não sou mesquinho. Mesquinha foi a gestão dele como presidente da Assembléia do Rio de Janeiro. É o mínimo que ouço quando vou ao Rio.