Título: PAC da Saúde é usado pró-CPMF
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 06/12/2007, O País, p. 3

CONFRONTOS NO CONGRESSO

Lula reafirma que mudou de opinião sobre imposto do cheque e pressiona senadores.

Sem os votos necessários para aprovar no Senado a prorrogação da CPMF até 2011, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou ontem o lançamento do PAC da Saúde, no Palácio do Planalto, num grande ato em defesa da manutenção do imposto do cheque. O programa tem previsão de investimento de R$89 bilhões em quatro anos, mas o presidente avisou que essa cifra só será atingida se houver a prorrogação do tributo.

Lula apelou à responsabilidade dos senadores e fez um mea-culpa. Disse que, como dirigente petista, obrigou deputados do partido a votarem contra a criação da CPMF, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. E afirmou que a hora não é de briga, mas de convencimento. No total, 18 ministros e 20 governadores participaram da cerimônia, todos favoráveis à CPMF.

Os tucanos José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, não foram ao ato. Mais tarde, em entrevista no Itamaraty, Lula alfinetou a oposição e disse que todos os governadores, sem exceção, apóiam a prorrogação da CPMF.

- Inclusive Arruda (José Roberto Arruda, DEM-DF), José Serra, Aécio Neves, Cássio Cunha Lima (PB) e a Yeda Crusius (RS). Todos, sem distinção. Os governadores sabem do retorno do dinheiro que eles têm com a CPMF - afirmou Lula, após almoçar com o presidente de El Salvador, Elías Antonio Saca González.

No evento no Planalto, na presença de Yeda Crusius e Cunha Lima, o presidente pediu o apoio deles para conversar com os senadores:

- Seria extremamente importante que cada governador conversasse com os senadores de seus estados.

Lula recorreu à idéia de uma suposta perseguição político-pessoal para tentar convencer a oposição, e os aliados rebeldes, a votar pela prorrogação. Para o presidente, se, de modo simplista, os senadores pensam que rejeitar a CPMF é prejudicar seu governo, podem votar contra. Mas, segundo ele, o prejudicado não será o presidente, mas os mais pobres.

- Não sei se votam hoje, se votam amanhã ou se votam depois de amanhã, mas em algum momento os senadores vão ter que apertar o botão, e aí vamos ver o resultado. Acho que o que deve prevalecer é que o ganhador dessa votação seja o povo brasileiro.

Petista repete que é "metamorfose ambulante"

O presidente admitiu que quando o cardiologista Adib Jatene, então ministro da Saúde, propôs a criação de um imposto para financiar a saúde, ele, que era presidente de honra do PT, pressionou os deputados da legenda para votarem contra. Somente Eduardo Jorge, hoje no PV, e que é médico, desobedeceu à ordem e foi punido pelo partido. Lula disse que mudou de idéia, uma vez no governo, e que não tem vergonha de ser uma "metamorfose ambulante", em alusão à canção imortalizada por Raul Seixas.

- O partido baixou o centralismo. Como não tenho vergonha e muito menos tenho razão para não dizer que eu mudo de posição, há muito tempo digo que prefiro ser considerado uma metamorfose ambulante, por estar mudando na medida que as coisas mudam... Não tenho a dureza do manifesto de um partido comunista ortodoxo, em que tudo já está escrito - disse ele.

Lula admitiu ainda que precisou chegar à Presidência para perceber que é muito mais fácil fazer oposição do que governar.

- Quando você é oposição, você trabalha com: "eu acho", "eu penso", "eu acredito". Quando você chega ao governo, você não acha, não pensa, não acredita. Você faz ou não faz, você executa ou não executa - discursou.

Lula contou que lhe disseram que a imprensa esperava que fizesse um discurso violento:

- Mas, aos 62 anos, não tenho mais tempo de ser violento (...) Eu, agora, não acho que é hora de briga, é hora de convencimento, de argumentar, é hora de chamar as pessoas a meditar.

No Itamaraty, ao comentar as declarações a respeito de sua mudança de posição a respeito da CPMF, Lula disse que apenas relatou algo que aconteceu com ele dez anos atrás, quando era contra o imposto. E disse esperar que isso sirva de lição a outras pessoas.

- Na vida, quando evoluímos politicamente, vamos mudando de posição, o que vai melhorando as possibilidades de governar o país.

Momentos depois de dizer que se tornaria um torcedor militante do Corinthians, o presidente usou novamente o time para falar sobre CPMF. Indagado se ele teria um plano B, caso a CPMF não passe, Lula respondeu:

- Eu só tenho plano A. O Corinthians trabalhou com o plano B e caiu.