Título: No Incor, fila pode durar até mais de um ano
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 06/12/2007, O País, p. 5

CONFRONTOS NO CONGRESSO: Instituição diz que doentes do SUS, de convênios ou particulares têm o mesmo tratamento

No hospital onde o presidente Lula e a primeira-dama, Marisa, são atendidos, pacientes reclamam de demora

SÃO PAULO. Pacientes do SUS atendidos no Instituto do Coração (Incor), um dos mais modernos hospitais do país no tratamento clínico e cirúrgico de doenças cardíacas - o mesmo onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua mulher, dona Marisa, fazem exames periódicos -, enfrentam enormes filas para serem atendidos. Em muitos casos, a fila dura mais de um ano. O Incor é administrado pela fundação Zerbini, ligada à Faculdade de Medicina da USP.

Carmen Pineda Merlo Teixeira, que foi ao hospital ontem, já não se lembra exatamente do dia em que se consultou no Incor e conseguiu marcar quatro exames no coração:

- Foi no começo do ano, em fevereiro ou março - diz, mostrando as datas em que os exames serão realizados: 6 e 8 de fevereiro e 10 de março de 2008. - Um ano! A espera é assim mesmo, um horror. Mas tem gente que espera mais.

Exames marcados para o ano que vem

Ontem, ela voltou a procurar o ambulatório onde os pacientes do SUS são atendidos, porque está sofrendo quedas inexplicáveis. Ela, que tem arritmia cardíaca e problemas de coagulação no sangue, mostra o enorme hematoma no braço, conseqüência de um tombo.

- Estou preocupada com esses tombos. Na semana passada machuquei o joelho e agora o braço. Vim aqui, e a médica disse que preciso fazer os exames. Quando viu que estão marcados para fevereiro e março, deixou assim mesmo - contou Carmen, que tem consulta para apresentar os exames agendada para 24 de março.

"Se alguém depender da saúde pública, morre"

Carmen e o marido, Waldemar Teixeira, elogiam os funcionários do Incor e riem ao ler o trecho do discurso de Lula, em que ele afirma que o presidente da República e um "companheiro pobre" são examinados na mesma máquina.

- Se alguém depender da saúde pública, morre - comenta Waldemar.

De acordo com a assessoria do Incor, a demanda de pacientes do SUS é muito grande. O atendimento aos pacientes começa em postos de saúde, onde é feita a triagem. Depois, o doente é encaminhado ao Incor. Diagnosticado o problema, explica a assessoria, o objetivo dos médicos é a estabilidade do paciente. Conforme as necessidades médicas para a estabilização do doente, que leva em conta a gravidade e as urgências de cada caso, são marcadas consultas e exames.

Segundo a assessoria, pacientes do SUS, de convênios ou particulares utilizam a mesma estrutura, mesmos equipamentos e instalações. O que muda é se o paciente fica em quartos duplos ou individuais.