Título: Falta de votos leva o governo a adiar votação
Autor: Jungblut, Cristiane; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 06/12/2007, O País, p. 9

CPMF poderia ter ido a plenário ontem mesmo; estratégia é evitar quórum e adiar para terça.

BRASÍLIA. Para não admitir que não tem votos e que recuou na promessa de tentar votar rapidamente a prorrogação da CPMF, o governo adotará a estratégia de esvaziar o quórum da sessão de hoje e adiar a votação para o dia 11, terça-feira. Ontem, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou relatório do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), rejeitando todas as 19 emendas apresentadas ao texto da proposta que prorroga a CPMF até 2011 e permitindo sua votação pelo plenário. À noite, o próprio Jucá confidenciou que a votação será adiada para a próxima semana. Ele disse que o dia 11 é o prazo limite, e que o governo partirá para o tudo ou nada, ou seja, para a vitória ou para a derrota.

- Se não houver quórum na quinta-feira (hoje), vamos transferir a votação para a próxima terça-feira. Espero votar na terça-feira a CPMF e, quando a eleição do novo presidente do Senado chegar, na quarta-feira, já teremos ultrapassado o primeiro turno da CPMF - disse Jucá.

Os aliados reconhecem as dificuldades:

- O governo ainda não tem os votos. Na terça-feira, o governo tem que votar, ganhando ou perdendo. Se não, vai perder por W.O., porque não vai ter tempo regimental de votar. Mas amanhã (hoje), não vota - acrescentou o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES).

Governadores tucanos estão "desesperados"

Além dos discursos do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo incluiu ontem na sua tropa de choque governadores, inclusive do PSDB, e ministros. Os governadores tucanos, segundo senadores do partido, estão "desesperados" com a possibilidade de a CPMF não ser aprovada e insistem que a bancada de 13 integrantes mude de posição.

Ontem, o governador de Alagoas, Teotonio Vilela (PSDB), almoçou com a cúpula do PSDB - o líder no Senado, Arthur Virgílio (AM); o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE); e o novo presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PSDB-CE) - para pedir apoio à CPMF.

- Sem a CPMF é muito ruim para todos - apelou Teotonio.

Mas os pedidos, segundo os senadores tucanos, não deram resultado. Teotonio e outros governadores do partido, como Yeda Crusius (RS) e Cássio Cunha Lima (PB), são favoráveis à prorrogação do imposto do cheque.

- Nós, da oposição, queremos votar já amanhã (hoje) a CPMF, mas parece que o governo não quer - disse Arthur Virgílio.

Já Sérgio Guerra avisou que sabe que o fim da CPMF trará dificuldades para o governo, mas disse acreditar que será uma oportunidade de o Executivo fazer um choque de gestão, reduzir gastos e investir realmente, e não em fantasia.

- O governo não tem nem plano A, quanto mais plano B. E é balela o governo dizer que sem a CPMF a saúde será prejudicada: a CPMF existe hoje e há um caos na saúde - ironizou Tasso Jereissati.

Governo garantiu quatro dos cinco votos do PDT

Sabendo da fragilidade do governo, a oposição passou o dia provocando os líderes governistas, em especial Romero Jucá, que havia prometido votar a CPMF hoje.

- Se depender de nós, poderemos votar até hoje (ontem)! O governo vai usar o final de semana para tentar cooptar os senadores - disse o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).

- O ideal seria votar amanhã (hoje), mas o governo tem o direito de estar inseguro - acrescentou Arthur Virgílio.

Mas a investida de ontem do governo garantiu quatro dos cinco votos do PDT, depois de um encontro do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com o líder do PDT no Senado, Jefferson Peres (AM). O governo também contabilizou o voto do senador Pedro Simon (PMDB-RS).

O problema é que esses nomes já estavam nos cálculos do governo, que não conseguiu assegurar outros votos. O senador Geraldo Mesquita (PMDB-AC) disse que mantinha sus posição contra a CPMF:

- O governo não construiu a ponte e agora quer que a gente salte a ponte num rio cheio de jacarés e piranhas.

O líder do PDT disse que já pode garantir quatro dos cinco votos do partido e que está conversando com o único que hesita em apoiar o imposto, Osmar Dias (PR). A tendência é que o senador paranaense acompanhe o partido, já que o PDT fechou questão a favor da CPMF.