Título: Dança das cadeiras na cúpula da PF
Autor: Prates, Maria Clara
Fonte: Correio Braziliense, 20/04/2009, Política, p. 2

Diretor-geral Luiz Fernando Corrêa fará segunda rodada de mudanças na corporação. A ideia é privilegiar aliados e afastar nomes que marcaram a polêmica gestão anterior, comandada por Paulo Lacerda

Atual superintendente de Minas, Marcos David Salem assumirá a Diretoria de Inteligência da Polícia Federal no lugar...

...De Daniel Lorenz, que passará a exercer a função de adido policial na Colômbia Com pouco mais de um ano e meio no cargo, o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, promoverá uma nova dança das cadeiras nos postos-chave da corporação. Após substituir os 27 superintendes regionais remanescentes da gestão Paulo Lacerda, Corrêa fará em breve alterações nas diretorias da PF, privilegiando aliados que o ajudaram a contornar as crises internas e políticas que ele atravessou. Pelo menos três atuais diretores se tornarão adidos policiais no exterior. Foi por meio desses cargos, criados no início do ano, que o governo acomodou Paulo Lacerda, já instalado em Portugal, depois de comandar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

A principal mudança ocorrerá na Diretoria de Inteligência Policial (DIP), que concentrou as grandes operações da PF nos cinco anos e meio da gestão Lacerda. Durante a chefia de Corrêa, a DIP manteve sob sua alçada a conturbada Operação Satiagraha, ação comandada por Protógenes Queiroz que levou à prisão o banqueiro Daniel Dantas em julho passado. Corrêa convidou para o cargo o superintendente da PF em Minas, delegado Marcos David Salem. Ele já aceitou a convocação do chefe. A posse só acontecerá no segundo semestre. Hoje, a chefia de Inteligência é exercida pelo delegado Daniel Lorenz, que assumirá o posto de adido policial na Colômbia.

Enquanto não assume, Salem acompanha o andamento do processo administrativo instaurado em Minas Gerais contra o delegado Protógenes Queiroz, considerado uma das maiores pedras no sapato da PF. A suspeita é de que Protógenes, durante um comício de apoio ao candidato petista Paulo Tadeu Silva D`Arcádia à Prefeitura de Poços de Caldas (MG), tenha falado em nome da instituição. Segundo a PF, o regimento da corporação veda esse tipo de conduta, e o inquérito foi instaurado por determinação ¿de Brasília¿. Com isso, Protógenes foi afastado de suas funções até a conclusão do processo disciplinar.

Repressão O diretor de Repressão ao Tráfico de Drogas, Paulo Tarso Gomes, também mudará de lugar. Ele vai para os Estado Unidos ocupar vaga de adido policial. De acordo com a assessoria de Gomes, a rápida promoção deu-se em razão de seu perfil profissional. ¿Ele tem estreitas relações com o FBI (polícia federal americana) e com a DEA (polícia especializada no combate às drogas)¿, disse um de seus assessores. Os brasileiros, entretanto, conhecem Paulo Tarso não por suas ligações com as polícias federais americanas, mas por ter comandado a operação que inviabilizou a candidatura da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) a presidente da República, em 2002.

Foi ele quem apreendeu no escritório da Lunus, empresa de Roseana e do marido dela, Jorge Murad, cerca de R$ 1,3 milhão em dinheiro que seria destinado à campanha presidencial daquele ano. O Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou, por falta de provas, o processo contra Roseana um ano depois da ação da PF. Com bem menos brilho, o delegado Antônio Celso dos Santos, que hoje está à frente da Divisão de Combate aos Crimes contra o Patrimônio, foi convidado a deixar o cargo para ser adido policial no Paraguai. Esse não era o plano do delegado, que durante a administração de Paulo Lacerda foi o responsável pela apuração do roubo ao Banco Central em Fortaleza (CE) ¿ o maior já ocorrido no país.

Foi ele também quem apurou o assassinato de fiscais do Trabalho em Unaí (MG), crime de repercussão internacional. Os substitutos de Paulo Tarso e de Antônio Celso ainda não foram anunciados. Considerado competente pelos colegas, o delegado Ricardo Saad, que preside com discrição o inquérito da Operação Satiagraha, em substituição a Protógenes Queiroz, foi convidado a assumir a Diretoria de Combate a Crimes Financeiros, em Brasília, mas teria recusado. Aos mais próximos, Saad confirmou o convite para ocupar o cargo assim como sua falta de interesse pela posição. A assessoria do diretor-geral da PF confirmou que o nome dele chegou a ser cogitado por Corrêa, mas que não houve recusa. Simplesmente, o diretor da PF teria preferido usar o critério de que só devem assumir um cargo de direção no órgão central delegados que já passaram por uma diretoria.

A assessoria do diretor-geral da PF confirma todos os convites e alega que as atuais mudanças acontecem em razão da vacância natural dos cargos. O diretor-geral, por meio da assessoria, disse que é favorável à troca de comando a cada dois anos. Para fazer valer a regra, a União tem custos altos. A PF é obrigada a desembolsar, para cada mudança fora do domicílio do delegado, até três salários. Em caso de delegados especiais, os salários podem chegar a R$ 20 mil. Para o exterior, o valor pago é de cerca de US$ 17 mil.