Título: Planalto articula para eleger Sarney
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 06/12/2007, O País, p. 11

PMDB lança quatro candidatos à sucessão de Renan, oposição apóia Garibaldi.

BRASÍLIA. Diante das dificuldades do PMDB de encontrar um candidato de consenso à sucessão no Senado, o presidente Lula entrou nas articulações e mandou um recado à cúpula do partido: gostaria de ver o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) no comando da Casa. A pressão está sendo feita pelos líderes do PT no Senado, entre eles a senadora Ideli Salvatti (SC). Sarney viaja neste fim de semana para Pará e Macapá com Lula. O presidente poderá reforçar a carga para que ele aceite ocupar a vaga de Renan no Senado.

Lula discutiria pessoalmente, ontem à noite, a sucessão no Senado com integrantes da cúpula peemedebista. A oficialização de quatro candidaturas ontem na reunião da bancada - que terminou sem acordo - foi interpretada como uma estratégia do grupo de Sarney para embaralhar o jogo sucessório e criar um ambiente mais favorável para a indicação de seu nome.

A oposição apóia Garibaldi. Mas ameaça tumultuar qualquer tentativa de acordo lançando um candidato próprio. A definição do PMDB só deverá ocorrer na próxima terça-feira, mesmo dia marcado para a votação da CPMF, quando o líder do partido, senador Valdir Raupp (RO), convocou uma nova reunião da bancada.

Ontem, já estavam em campanha aberta Garibaldi Alves (RN), Leomar Quintanilha (TO), Valter Pereira (MS) e Neuto de Conto (SC). O senador Mão Santa (PI) embaralhou mais a discussão, ao lançar o nome do colega gaúcho Pedro Simon.

- Em política, quando tem candidatos demais, às vezes aparece uma outra alternativa - reconheceu o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), que esteve ontem no Planalto para tratar da sucessão.

- Tem muito bode na sala. Isso significa que ainda está longe de o partido ter um consenso. Sarney seria o nome natural, mas resiste. Mesmo assim, está recebendo - disse o senador Edison Lobão (PMDB-MA).

Governo quer presidente que dialogue com oposição

No Planalto, a grande preocupação é encontrar um candidato com capacidade de agregar não só a base governista, mas também com trânsito na oposição. O governo gostaria de alguém experiente e confiável.

- Meu candidato será o do PMDB. Mas quero um candidato que agregue o máximo possível e tenha estatura - disse Ideli.

Com a candidatura lançada há mais tempo, Garibaldi desponta como favorito, caso o cenário permaneça como está. Ontem, ele teve uma longa conversa com Sarney. Ele e Renan - único que não participou da reunião - controlam 13 dos 20 votos da bancada. Garibaldi sabe que o candidato do PMDB será quem Sarney e Renan determinarem. O martelo deverá ser batido no fim de semana.

- Se Sarney entrar na disputa, retiro minha candidatura para apoiá-lo - disse Garibaldi.

Dos quatro nomes, Garibaldi é o que tem melhor receptividade na oposição. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), admite que ele seria o único candidato lançado até agora com quem seu partido estaria disposto a conversar:

- Garibaldi é um nome bastante aceitável para discutirmos alguns pontos, como a independência do Senado e a transparência de gestão. Os demais são respeitáveis, mas justificariam uma disputa conosco. Se for o Sarney, eu próprio gostaria de enfrentá-lo.

O líder do Democratas, José Agripino (RN), disse que, se o PSDB lançar um candidato, não terá como deixar de apoiá-lo.

- Até por uma questão de reciprocidade. O PSDB apoiou a minha candidatura quando disputei com Renan - lembrou Agripino.