Título: Indústria de recordes
Autor: Almeida, Cássia; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 06/12/2007, Econoia, p. 31

Produção sobe 10,3% frente a outubro de 2006. Avanço do PIB no ano fica mais perto de 5%.

Aindústria colecionou recordes em outubro. A produção cresceu 2,8% frente ao mês, na maior alta desde setembro de 2003, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo IBGE. Em relação a outubro de 2006, a variação chegou a dois dígitos: 10,3%, a maior expansão nessa comparação desde agosto de 2004. Quando se considera a produção nos últimos 12 meses, outro recorde quebrado: a taxa de 5,3% só não foi superior aos 5,9% de julho de 2005. De janeiro a outubro, a indústria acumula alta de 5,9%. Crédito farto e longo, melhoria constante do mercado de trabalho e recuperação dos salários são as principais explicações para esse desempenho recorde em outubro, segundo o IBGE. O instituto também cita as exportações como impulso à produção, além da proximidade do Natal.

- É um resultado forte, chinês. E mais um sinal positivo é a trajetória do investimento. É um dos maiores ciclos de alta de produção geral. Há quatros anos, a indústria não pára de crescer. Na comparação anual, a expansão se repete há 16 meses. E a exportação, principalmente de commodities tem contribuído para a manutenção da produção nesses níveis - disse Isabella Nunes, gerente da pesquisa do IBGE.

Outro indicador da pesquisa que mostra o crescimento sólido da indústria é o índice de difusão, que mede o percentual de itens cuja produção aumentou no mês. Em outubro, o índice foi de 63%, acima dos 56% de setembro. Isabella lembra que, durante todo este ano, o indicador ficou acima da média do ano passado.

- Até mesmo aqueles setores que sofreram com a valorização do real, perdendo competitividade nas exportações e espaço no mercado interno para as importações, estão se recuperando. Cresceu a produção de calçados, madeira, têxteis e vestuário, com a melhoria no mercado interno - explicou Isabella.

Investimentos: alta de 18,8% no ano

Entre os setores que lideraram o crescimento em outubro, o de veículos automotores se destaca em todas as comparações. Frente a setembro, foi o principal impacto positivo para alta de 2,8% na produção total. O volume de carros produzidos cresceu 7%. Em relação a outubro do ano passado, também a maior contribuição, com uma expansão de 29,5%. A agroindústria, que passou por crise forte em 2005 e em parte de 2006, já mostra recuperação, afirma Isabella. Produtos como máquinas agrícolas e herbicidas aparecem no topo da lista de itens que tiveram mais impacto para a alta da produção em outubro.

O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Levy, destaca outro dado importante da pesquisa: o "crescimento excepcional" dos investimentos, com a alta da produção de bens de capital (máquinas e equipamentos para aumentar a capacidade produtiva da indústria). Em comparação com outubro de 2006, a expansão foi de 26,8%. No ano, a alta já está acumulada em 18,8%.

- Foi um resultado forte, e os investimentos aparecem como a parte mais relevante dos números. E as taxas vêm crescendo mais nos últimos tempos.

Pelas contas do economista, esse resultado da indústria deve fazer a variação do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) fechar este ano perto de 5%, mais precisamente em torno de 4,8%, se for mantido o atual patamar de produção até o fim do ano. Ele acredita que, em novembro, a mesma pesquisa mostre bons resultados, mas em níveis menores do que em outubro.

Levy, porém, alerta para os riscos de inflação, com a indústria trabalhando no máximo da capacidade. Para ele, é preciso ficar atento nos próximos meses em relação ao aquecimento da economia, para que a demanda não cresça muito rapidamente:

- É preciso haver alguma desaceleração para permitir que os investimentos maturem. A produção de bens de capital está crescendo, mas não apresenta efeitos imediatos. É preciso estar alerta para não haver uma reversão na política monetária - diz o economista.

Para Mantega, não há risco de inflação

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem em Brasília que o crescimento da indústria em outubro já era esperado e foi muito positivo. Estimando alta de 6% na produção do setor em 2007 - acima das projeções para o PIB, que estão em 4,7% -, Mantega ressaltou que a forte expansão não causará inflação.

- Temos que perder essa mania de achar que crescimento maior resulta necessariamente numa inflação maior - criticou.

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o indicador de capacidade instalada atingiu, em outubro, a maior marca desde janeiro de 2003, chegando a 84,3%. Mantega observou ainda que os preços industriais crescem abaixo da meta de inflação de 4,5% em 2007:

- Os preços industriais têm crescido, em média, 3%, portanto abaixo da meta de inflação, o que me faz deduzir que eles não estão contribuindo para a alta de preços.

Segundo o ministro, são alguns produtos agrícolas, prejudicados pela falta de chuva - como é o caso do feijão - que têm pressionado os índices de inflação.