Título: A linha de contenção nuclear correta
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 06/12/2007, O Mundo, p. 37

Ao esvaziar boa parte do exagero sobre o tema, o Informe de Segurança Nacional (NSE) oferece uma oportunidade para pôr fim ao impasse com Teerã. Acabo de voltar de uma série de encontros com altos funcionários iranianos e acho que os contornos de um acordo são claros.

Liderada pelos EUA e pela União Européia (UE), com Rússia e China dando apoio cauteloso, a comunidade internacional até agora se fixou em impedir o Irã de adquirir capacidade de enriquecimento de urânio e fabricar combustível para fins civis ou militares. O Irã argumenta que tal proibição não tem fundamento no Tratado de Não Proliferação (TNP) e é uma discriminação injustificável. Teerã continua a peitar a ONU, a ignorar as sanções e a recusar-se a negociar qualquer regime de inspeção mais intrusivo que permita à comunidade internacional confiar mais em sua palavra.

Dado o histórico do Irã de não ter declarado sua atividade nuclear e das muitas declarações provocadoras de seu presidente, a comunidade internacional tem o direito de estar nervosa. Mas os sinais são de que o Irã não vai abrir mão de seu ¿direito de enriquecer¿ urânio. Isso significa a continuação do impasse, com cooperação mínima de Teerã em temas regionais de grande importância ¿ como Iraque, Síria, Líbano e o papel do Hamas e do Hezbollah ¿ e confiança internacional mínima nas intenções nucleares do Irã.

O novo NSE nos dá a chance de romper o impasse. O que a comunidade internacional realmente quer do Irã é que o país nunca produza armas nucleares. E essa garantia passa por conseguir que o Irã aceite um regime de monitoramento, inspeções e verificação altamente intrusivo que vá bem além do estipulado pelo TNP. Teerã também teria de reforçar a confiança internacional alongando os prazos do desenvolvimento de seu programa nuclear e aceitando que toda atividade de enriquecimento em escala industrial seja feita por um consórcio internacional.

Embora o Irã vá resistir, o país pode ser persuadido. Mas as negociações não irão a lugar algum enquanto os EUA e a UE insistirem no enriquecimento zero. Duas semanas atrás no Irã, percebi uma consciência aguda sobre os riscos envolvidos num programa nuclear bélico. Mas o Irã quer a energia nuclear ¿ segundo os argumentos que ouvi ¿ por orgulho nacional.

Negociações incondicionais com o objetivo de atrasar um enriquecimento limitado com o máximo de salvaguardas ¿ mais do que a fracassada política de enriquecimento zero ¿pode produzir um resultado positivo para ambos os lados. Tais negociações não serão fáceis, mas são o único caminho.

GARETH EVANS foi chanceler da Austrália e escreveu este artigo para o ¿Washington Post¿