Título: Chávez tentará de novo reformar a Constituição
Autor:
Fonte: O Globo, 06/12/2007, O Mundo, p. 39

Presidente da Venezuela ironiza vitória do "não" e desmente pressão de chefes militares para reconhecer derrota.

CARACAS. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem que sua proposta de reforma constitucional, derrotada no plebiscito realizado no último domingo, será colocada em votação "mais uma vez". Durante uma entrevista coletiva de imprensa no Palácio Miraflores, sede do governo, convocada pelo alto comando militar do país para negar versões de que as Forças Armadas haviam pressionado o presidente a admitir a derrota eleitoral, Chávez ironizou a vitória da oposição no plebiscito em seu estilo de frases bombásticas:

- Foi uma vitória de merda e a nossa, uma derrota corajosa - disse.

Segundo Chávez, a proposta de reforma da Constituição, que inclui a possibilidade de reeleição presidencial contínua, voltará a ser submetida, "transformada ou simplificada", em uma data futura, sem que para isso seja necessário um novo referendo. Basta que pelo menos 15% dos eleitores proponham o projeto de mudança, como prevê a Constituição atual, aprovada em 1999.

Em contrapartida, a oposição alertou que os artigos que foram apresentados no referendo de domingo passado não poderão ser novamente submetidos à consulta popular, conforme determina a Constituição em vigor.

Comando militar grita "pátria, socialismo ou morte"

Chávez negou pressões de militares, mas disse que alguns deles, que ele não identificou, recomendaram à meia-noite de domingo que esperasse a contagem dos votos, ao preverem que o "sim" à reforma poderia se converter em "não" da oposição, embora sempre com uma margem apertada.

- Para mim foi a melhor derrota - disse ele, explicando que uma "vitória pífia" de sua proposta teria sido catastrófica e, a essa altura, o país estaria em chamas, sem que ficasse claro quem realmente havia vencido o pleito:

- As dúvidas, com razão, estariam apontadas contra mim - disse Chávez.

Antes mesmo da coletiva, Chávez já havia negado qualquer pressão para reconhecer a derrota nas urnas:

- O dia em que um general me pressionar, por mais amigo que seja, eu o substituo imediatamente - disse Chávez na terça-feira por telefone a um programa noturno da emissora de TV estatal VTV.

O assunto foi abordado pela rede de TV CNN - contra a qual Chávez disse que abrirá um processo por incentivar o seu assassinato -, que entrevistou um repórter do jornal de Caracas "El Nacional". Segundo o jornalista, teria havido pressões, durante uma reunião convocada pelo alto comando militar. Chávez, porém, disse que a única reunião da qual participou antes que a autoridade eleitoral lhe informasse da derrota de sua proposta de reforma constitucional, foi com seus filhos e netos.

Os chefes das Forças Armadas venezuelanas, aos gritos de "pátria, socialismo ou morte", também desmentiram as versões de que houve pressões dos militares sobre o governo.

O ministro da Defesa, general Gustavo Rangel, destacou que o reconhecimento de Chávez ao triunfo do "não" à reforma evidenciou "novamente a vocação democrática deste homem excepcional, a quem um rei mandou calar e, agora, foi ele quem calou o mundo".

Chávez vê aproximação com rei Juan Carlos

Rangel se referiu ao rei Juan Carlos, da Espanha, que mandara o presidente venezuelano se calar, durante uma discussão na Cúpula Ibero-Americana realizada no Chile no mês passado. Ontem, porém, Chávez afirmou ver como um "sinal positivo" e um alívio na crise diplomática entre os dois países a felicitação enviada a ele pelo rei da Espanha, pela condução do referendo.

Chávez acrescentou que se reunirá em Buenos Aires, durante a posse da presidente Cristina Kirchner na próxima segunda-feira, com Filipe de Borbón, príncipe de Astúrias, herdeiro da coroa espanhola, que, segundo o presidente venezuelano, "traz uma mensagem pessoal" do rei Juan Carlos.

- Nos pediram que em Buenos Aires receba ao príncipe de Astúrias, que traz uma mensagem pessoal do rei - afirmou Chávez. - Vou recebê-lo. Sou um cavalheiro.