Título: Impulso para uma nova abordagem
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 06/12/2007, O Mundo, p. 38

Um novo revés se somou ao rosário de derrotas que o presidente Bush vem colhendo desde as eleições da metade do mandato no ano passado, que o deixaram sem maioria no Congresso e deram sinal de abandono do barco ao seu batalhão de colaboradores neocons.

Agora foi a comunidade de inteligência que demonstrou profissionalismo e independência, provavelmente para recuperar o prestígio perdido há cinco anos, quando fabricou o caso das inexistentes armas de destruição em massa de Saddam Hussein para justificar a invasão do Iraque. O Irã dos aiatolás ¿ uma das três peças do eixo do mal de Bush ¿ não tem um programa nuclear militar em marcha, segundo a avaliação.

As conclusões do NSE sobre o Irã são suficientes para mudar a percepção internacional sobre o país. É um êxito para a AIEA e seu diretor, Mohamed ElBaradei, pois coincide com sua avaliação. Significa ainda um alívio para Rússia e China, pressionadas por Washington para apoiarem novas sanções contra Teerã. E afasta a eventualidade de um ataque americano, estimulando a diplomacia.

As únicas reservas ao informe foram de Israel e da Casa Branca, que leu o documento ao contrário e insiste na ameaça do Irã. Já os israelenses partidários de um ataque ao país dos aiatolás terão mais dificuldades para impor seus pontos de vista belicistas. O Irã agora está no campo da próxima Presidência dos EUA, pois o informe atrasa a possibilidade de um programa nuclear bélico iraniano para a próxima década.

Sobre as cinzas da estratégia neocon é imprescindível elaborar uma nova forma de abordar as ameaças que podem significar esses regimes autoritários e populistas, dotados de reservas energéticas estratégicas. O informe nos diz que há margem de tempo para elaborar essa nova estratégia, para elucidar se ela deve ser de contenção ou se este Irã sem armas nucleares deve ser incluído num esquema diplomático.

LLUÍS BASSETS escreveu este artigo para o ¿El País¿