Título: O gigante poluidor
Autor: Scofiled Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 06/12/2007, Ciência, p. 40

China não aceita meta de redução de emissões de gases-estufa e pressiona ricos.

Potência emergente não apenas no tamanho de sua economia, mas também como maior poluidora do planeta, a China concentra a atenção da grande maioria dos delegados presentes à 13ª Conferência da Convenção de Mudança Climática das Nações Unidas. O país deve ultrapassar ano que vem os EUA como maior emissor de gases do efeito estufa do mundo por conta da velocidade de crescimento de sua economia e de uma matriz energética que privilegia o carvão, uma das matérias-primas mais sujas do planeta.

Ainda assim, a China não admite que sejam fixadas metas de cortes de emissão para os países emergentes, uma vez que os responsáveis pela situação atual são os países ricos, que cresceram poluindo o planeta e continuam a fazê-lo. Para os chineses, é injusto que agora, no momento em que países pobres começam a se industrializar, as Nações Unidas queiram impor um teto às emissões decorrentes deste crescimento, limitando-o.

¿ A China está inteiramente comprometida a ajudar a reduzir o problema do aquecimento global, temos metas voluntárias de redução de energia, de reflorestamento e de uso de fontes de energia renováveis ¿ afirmou o primeiro-ministro do país, Wen Jiabao, em recente encontro de países asiáticos.

De fato, o gigante se move. Em dezembro, o governo anunciou que vai investir, anualmente, 1,35% do seu Produto Interno Bruto (PIB) até 2010 em proteção ambiental ¿ o que equivale a aproximadamente US$37,6 bilhões por ano, um aumento de 18% em relação ao período 2000-2005.

Além disso, o país anunciou este ano seu primeiro Programa Nacional sobre Mudanças Climáticas. Mas, em vez de estabelecer limites para a emissão de gases-estufa, a China prefere reduzir o consumo de energia em 20% até 2010. Os chineses acreditam que esta redução será responsável por um corte de 950 milhões de toneladas de gases ¿ de um total de 6,1 bilhões. O problema é que, até agora, as metas de redução de energia não foram atingidas e o consumo, pelo contrário, aumenta na proporção do crescimento do país.

Adesão da China pressionaria EUA

Tudo isso faz crescer a pressão sobre o país neste encontro de Bali. Um dos chefes da delegação dos EUA, Harlan Watson, afirmou que não faz sentido deixar de incluir nas conversas sobre a renovação do Protocolo de Kioto metas para países emergentes altamente poluidores, como a China e Índia. Há quem diga que, se a China fizer algum aceno para a adoção de metas, os americanos estariam finalmente dispostos a participar da renovação do acordo.

Em Bali, a China decidiu focar sua artilharia na luta pela criação de mecanismos internacionais de financiamento de projetos ambientais e de adaptação às mudanças em países emergentes. E em cobrar dos países ricos transferência de tecnologia de uso de energias limpas a custos baixos.