Título: Esse é o odioso vício dos autoritários!
Autor: Taves, Rodrigo França
Fonte: O Globo, 07/12/2007, O País, p. 3

Tasso Jereissati, do PSDB, reage comparando o presidente a ditadores.

BRASÍLIA. O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrando "juízo" dos senadores na votação da CPMF só aumentou a tensão e azedou ainda mais o clima no Senado - onde o governo ainda não tem os 49 votos necessários e a oposição diz ter pelo menos 35. Senadores do PSDB e do DEM criticaram o tom usado pelo presidente, que disse que o governo teria que "ir a cada casa para mostrar quem é o senador responsável por deixar milhões de pessoas sem os benefícios do Bolsa Família". O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que Lula usa táticas hitleristas e quer expurgar aqueles que são contra o governo.

- Não posso, nem o meu partido pode, admitir que alguém venha apontar o dedo, como um Hitler, um Mussolini ou um Chávez, e diga: esses ou aqueles que não estão conosco devem ser expurgados! Esse é o odioso vício dos autoritários! - reagiu Tasso. - Imaginem um homem com essa disposição, quando se vê contrariado, com a TV pública na mão. Faço um repúdio veemente a esse tipo de colocação, que só vem a acirrar a situação nesta Casa.

O tucano repetiu o argumento da oposição de que parte dos recursos da CPMF é usada pelo governo para manter o superávit primário e que as camadas mais pobres seriam penalizadas porque nos preços dos produtos está embutida a CPMF:

- Venha (o presidente) para a televisão e diga se esse dinheiro é ou não é para pagar superávit primário também! Diga e explique quanto de arrecadação tem, neste ano, a mais do que o esperado, que poderia suprir uma eventual falta da CPMF e que está indo para pagar emendas de parlamentares comprometidos ou aliciados pelo governo com esses recursos para votar com ele!

Jucá: "Iremos disputar numa luta elegante de esgrima"

Na mesma linha de Lula, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), cobrou responsabilidade da oposição na votação da prorrogação da CPMF, marcada para a próxima terça-feira. No tom irado do presidente, Jucá disse que a oposição votaria contra os pobres e até contra os ricos "da Avenida Paulista", numa alusão aos empresários, por exemplo:

- Terça-feira, votaremos: quem tiver voto ganha, quem não tiver voto perde. Quem ganhar ou responde pela aprovação da CPMF ou responde pelo ônus de não termos CPMF no país. É uma discussão clara, cristalina. Iremos disputar numa luta elegante de esgrima. Vamos escutar as vozes da favela, de quem usa o sistema de saúde e da Avenida Paulista.

O líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), disse que Lula adota um tom perigoso e que o presidente deveria "se informar melhor" sobre os recursos da CPMF, rebatendo a informação do presidente de que 50% do valor arrecadado vão para saúde:

- Esse tipo de argumento é falacioso. O presidente anda lendo pouco, está saindo do sério e adotando um tipo perigoso de argumento.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), também fez críticas.

- Duvido que, sem a CPMF, o presidente abra mão do Bolsa Família, que, na verdade, não é senão a aglutinação dos programas que herdou do presidente Fernando Henrique Cardoso - disse Arthur Virgílio.