Título: Lula quer Sarney, mas PMDB se debate
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 07/12/2007, O País, p. 10

Disputa para presidente do Senado se embaralha ainda mais com lançamento de candidatura de Pedro Simon.

BRASÍLIA. Para desespero do comando do PMDB, do PT e do Palácio do Planalto, os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Cristovam Buarque (PDT-DF) lideram um movimento que levou ontem o senador Pedro Simon (PMDB-RS) lançar seu nome na já descontrolada disputa pela presidência do Senado. Isso embaralha ainda mais a disputa interna na bancada peemedebista, que agora passa a ter cinco candidatos. Em outra frente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que na véspera já havia declarado à cúpula do PMDB sua preferência pelo nome do ex-presidente José Sarney - pretendia ontem fazer um apelo pessoal a Sarney, em visita que os dois fariam a Belém e Macapá.

Sarney ainda nega categoricamente a possibilidade de se candidatar, mas vários aliados seus avaliam que ele já começa a balançar. Avesso à disputas, Sarney estaria esperando apenas o surgimento de um consenso na Casa em torno de seu nome.

Lula diz que tem juízo e sabe que o Senado tem autonomia

Lula, por sua vez, negou ontem publicamente que pretenda convidar Sarney para disputar a presidência do Senado. Em entrevista coletiva no Pará, ele disse que Sarney já afirmou não desejar o cargo. Acrescentou que "tem juízo" e sabe que o Senado tem autonomia.

Sarney voltou a negar a possibilidade de se candidatar:

- Não há hipótese de eu ser candidato. E o presidente Lula não vai me pedir isso. Não se pode pedir uma coisa que a pessoa não pode atender - desconversou Sarney ontem de manhã, antes de embarcar para Macapá, onde teria novo encontro com Lula.

Os principais líderes de oposição, com exceção do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), já sinalizaram que não pretendem se opor à candidatura de Sarney. Entre eles os tucanos Tasso Jereissati (CE) e Sérgio Guerra (PE), presidente do partido, e o líder do Democratas, José Agripino Maia (RN).

Já Cristovam e Suplicy fugiram das líderes Ideli Salvatti (PT) e do governo Roseana Sarney (PMDB-MA), que tentaram a todo custo impedir que ele e o pedetista coletassem assinaturas em apoio a Simon. Eles já haviam conseguido mais de 20 nomes quando foram abordados pelas duas, que lhes pediram que a coleta fosse suspensa.

Simon autoriza Suplicy a incluí-lo na disputa

Logo depois, Simon autorizou Suplicy a anunciar sua decisão de entrar na disputa, oficialmente. O senador Almeida Lima (PMDB-SE), reagiu irritado:

- O senador Suplicy agiu muito mal. Os integrantes de outros partidos só deveriam se manifestar depois de o PMDB anunciar qual será o seu candidato.

Simon informou, por intermédio de sua assessoria, que seu nome está à disposição, mas que o lançamento de sua candidatura depende do PMDB.

Garibaldi Alves (PMDB-RN), primeiro a se lançar candidato, já percebeu a movimentação do Planalto em direção a Sarney e pisou no freio à espera de uma definição. No núcleo do governo, ele é visto como um plano B, caso Sarney resista. Seu nome tem resistências entre os aliados de Renan, pelo fato de ele ter votado a favor da cassação do colega no seu primeiro julgamento, e de setores do PT, pela postura assumida na época em que foi relator da CPI dos Bingos.

Garibaldi tenta restabelecer as pontes com o governo por intermédio de seu primo, o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), e do presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).

O líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), afirmou que podem aparecer outros interessados na disputa. Já se lançaram, além de Garibaldi e Simon, Leomar Quintanilha (TO), Neuto de Conto (SC) e Valter Pereira (MS). O desfecho será na próxima reunião do partido, marcada para às 9h de terça.

- Estão falando muito. Eu mesmo, modéstia à parte, poderia ser um nome de consenso na bancada, mas optei por não disputar. o presidente Sarney está falando a mesma coisa, mas pode ser que haja um convencimento - disse Raupp.

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