Título: Falta tudo. De pneu e caminhão a soldador
Autor: Alves, Cristina
Fonte: O Globo, 07/12/2007, Economia, p. 34

INVESTIMENTOS: Mineradora aposta em projetos siderúrgicos. Agnelli diz que empresa está fazendo sua parte

Vale, que investirá US$59 bi até 2012, traz carvão de fora e teme atraso de um ano e meio por veículos

CARAJÁS (PA). A Vale tem hoje o maior programa de investimentos de uma mineradora no mundo. São US$59 bilhões no período de 2008 a 2012. E, graças à compra da canadense Inco, em 2006, por US$18 bilhões, a Vale empurrou o Brasil para o 12º lugar em investimentos no estrangeiro. Apesar dos números grandiosos, a companhia hoje enfrenta gargalo para crescer. Ela tem atualmente, rodando, 105 caminhões fora-de-estrada (específicos para mineração), mas precisará de mais. Como o mercado mundial está aquecido - principalmente por causa da China -, a espera hoje por um veículo desse tipo é de um ano e meio. Até os gigantescos pneus estão em falta.

- Ainda bem que temos estoque deles - diz Roger Agnelli, presidente da empresa, em visita às minas no Pará.

No investimento de Onça Puma, para a produção de 60 mil toneladas/ano de níquel, a Vale está trazendo carvão da Colômbia e da Venezuela para alimentar os fornos.

Falta até soldador. Há três anos, um profissional desses ganhava pouco mais de R$1 mil por mês. Hoje, paga-se até R$10 mil. E, mesmo assim, é difícil encontrar. O jeito que a Vale encontrou foi treinar cada vez mais técnicos, principalmente para atender às suas necessidades no Pará.

Investimentos em siderurgia para vender mais minério

Num mundo de escassez, a companhia investe em redução de custos. Acaba de inaugurar um centro de monitoramento das cinco minas. Numa sala totalmente informatizada, os técnicos acompanham todo o movimento dos caminhões e mandam mensagens aos motoristas para avisar o melhor caminho, a melhor alternativa para ganhar tempo e economizar combustível.

Ao mesmo tempo em que busca ampliar a produção de minérios, a Vale tem tentado atrair clientes para comprar minério de ferro no Brasil.

- Não faz sentido o Brasil exportar minério de ferro e importar aço. Isso é um pouco o incômodo do presidente Lula. Ele acha que tem que produzir mais aço para a construção de navio, para fazer tubos para gasoduto - diz Agnelli.

Por isso, a Vale ajudou a ArcelorMittal a investir mais no país e está por trás, como acionista minoritária, de projetos como a CSA ThyssenKrupp (no Rio), a CSV Baosteel (ES) e a Ceará Steel com o grupo Dongkuk, onde pode participar com até 40% do capital.

Numa das plantas, a UHC (unidade hidrometalúrgica de Carajás), a Vale está investindo US$90 milhões só para testar o cobre de Salobo numa parceria com os canadenses da Teck Cominco.

- Se tudo der certo, vamos investir US$2 bilhões para produzir o cobre - diz Agnelli.

Outra preocupação é com a energia. Para enfrentar a escassez, a companhia está investindo em urânio na Austrália, no Canadá, no Cazaquistão, já que há monopólio estatal no Brasil.

A diretoria da Vale está começando uma rodada de negociação de preços de minério de ferro. Sobre o tema, Roger Agnelli dá algumas pistas:

- O mercado está cobrando preços muito acima dos atuais. Existe uma discrepância dos contratos spot (à vista) e de longo prazo. O spot tem subido brutalmente no mundo inteiro. Já considerando o preço de entrega para o cliente, está na faixa de US$200 por tonelada na China. A longo prazo, está entre US$80, US$100. A gente tem que achar um valor possível - diz.

* A jornalista viajou a convite da Vale