Título: EUA enfraquecem ONU
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 07/12/2007, Ciência, p. 42

Bush convoca os maiores emissores de CO2 para reunião climática.

Gilberto Scofield Jr.

Ochefe da delegação americana na 13ª Conferência da Convenção de Mudança Climática das Nações Unidas, Harlan Watson, afirmou ontem que o presidente dos EUA, George W. Bush, enviou um convite aos 17 países responsáveis por 80% das emissões de gases do efeito estufa para um encontro em Honolulu, no Havaí, no fim de janeiro. Uma reunião semelhante já havia ocorrido em Washington em setembro.

A idéia é fazer com que os maiores emissores acordem ações para reduzir seus lançamentos até o fim do próximo ano, época das eleições presidenciais americanas, marcadas para novembro de 2008. O projeto tomaria como base metas voluntárias, e não os tetos obrigatórios estipulados hoje pelo Protocolo de Kioto.

- Nossa idéia é acelerar o processo e facilitar o compromisso dos países com a redução das emissões - disse ele.

Muitos ambientalistas, no entanto, consideram que o objetivo de Bush é enfraquecer as reuniões multilaterais no âmbito das Nações Unidos e evitar que o acordo de Kioto, que expira em 2012, seja prorrogado ou substituído por um mecanismo de compromissos semelhante. Para que um novo acordo de clima entre em vigor na época, um protocolo alternativo - ou a prorrogação de Kioto - deverá ser aprovado em 2009 pelos 190 países reunidos em Bali. Com isso, os parlamentos dos países podem estudar o texto com calma e votá-lo antes de sua implementação.

- Não queremos nada alternativo a Kioto - defendeu-se Watson. - Os EUA consideram que o lugar para as decisões multilaterais continua sendo as Nações Unidas. Em todo o caso, mantemos a nossa posição de recusar metas.

Mas engana-se quem pensa que a orientação da Casa Branca reflete 100% o que pensam os americanos. Na próxima semana, por exemplo, a delegação de negociadores dos EUA terá que conviver com um grupo de 15 senadores - republicanos e democratas - que chegam a Bali com a tarefa de mostrar que o país está dividido e há quem queira aderir a Kioto. Anteontem, um comitê so Senado dos EUA aprovou um projeto de lei estabelecendo metas de emissão para o setor industrial, de transporte e de energia, que agora seguiu para o plenário do Senado.

Schwarzenegger lidera campanha

O inferno de Bush não termina aí. Através de uma campanha pela TV americana, uma coalizão de 11 governadores - republicanos e democratas - pede ao Congresso dos EUA que imponha limites às emissões de gases do efeito estufa. O anúncio começa com o governador da Califórnia - republicano como Bush -, Arnold Schwarzenegger, dizendo: "As mudanças climáticas são um teste de liderança". A isso o governador democrata de Montana, Brian Schweitzer, acrescenta: "Resolvendo o problema, teremos os EUA livres de seu vício do petróleo estrangeiro".

Em Bali, os delegados dos cerca de 190 países que discutem o aquecimento global se disseram preocupados com a demora nas negociações. Na semana que vem, os ministros de Estado dos países chegam à reunião e o desejo geral é ter um documento pronto com as principais propostas antes deste grupo desembarcar na ilha.

A saída foi criar uma força-tarefa com a missão de elaborar o chamado mapa do caminho de Bali. Tanto os EUA, único país desenvolvido a não ratificar Kioto, como grandes países emergentes, como China e Índia, continuam recusando metas de emissão além daquelas já fixadas para os 36 países ricos signatários do acordo hoje. Mas os delegados admitem conversar sobre a ampliação do acordo com metas voluntárias de redução de emissões, estipuladas pelos próprios países e monitoradas por regras aceitas de comum acordo.

Segundo diplomatas e representantes de organizações não-governamentais, esta pode ser a saída para ampliar o esforço na redução de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera como mandam os cientistas. Ou seja, um corte de 50% nas emissões em 2050 em relação aos volumes de 1990.