Título: Governo vai para o tudo ou nada
Autor: Jungblut, Cristiane; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 08/12/2007, O País, p. 3

Com votação da CPMF marcada para terça e sem votos para aprovar, Planalto até abre hoje.

Depois de barganhar cargos e emendas parlamentares com aliados e sem perspectivas de um entendimento para atrair votos na oposição e na base para aprovar a prorrogação da CPMF, o governo parte para o tudo ou nada e manterá seus articuladores de plantão no fim de semana em Brasília. A votação está marcada para a terça-feira. Com as negociações e o placar de votos favoráveis empacados em 46 senadores - são necessários 49 para aprovar -, ministros e líderes do governo já engrossavam ontem o discurso de que pouca coisa há a fazer. O Palácio do Planalto estará aberto a partir das 10h hoje. E o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, intensificará a ofensiva junto a senadores e governadores.

De manhã, o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), chegou a cogitar a possibilidade de uma cartada final do governo para tentar retomar as negociações com o PSDB, com a proposta de aumento de repasse de verbas da CPMF para a saúde. Mas a proposta, sugerida pelo ex-ministro da Saúde Adib Jatene, não vingou.

- O governo sinaliza que vai destinar mais recursos para a saúde. Isso vai facilitar a aprovação da CPMF. É possível que consiga mais votos, inclusive da oposição. Os governadores estão pedindo mais verbas para a saúde, o Jatene está fazendo um apelo. Houve uma sinalização. E há quem defenda que toda a CPMF vá para a saúde e que, então, desista-se do acordo de reduzir a alíquota de 0,38% para 0,36% ano que vem - disse Raupp.

Rebeldes da base aliada estão na mira

Mas o líder do PMDB falou sozinho. Ninguém no governo avançou na proposta, e coube a José Múcio jogar um balde de água fria no que parecia ser um caminho para a negociação. Ele deixou claro que nada avançara:

- Ouvi durante o dia algumas pessoas dizerem que os governadores estavam se movimentando para oferecer alternativas. Essas alternativas não foram oferecidas. Não estamos contando com elas. Se forem oferecidas, leva-se para o governo, para os ministros da área, para ver se tem aplicabilidade.

O ministro lembrou a aprovação, pela Câmara, da regulamentação da Emenda 29, que está no Senado.

- Primeiro, estamos trabalhando dentro do nosso campo, com nossos aliados - disse Múcio.

Afinado com Múcio, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que não há nova proposta do governo, mas, ao mesmo tempo, afirmou que gostaria do apoio da oposição na terça-feira:

- O governo continua aberto a qualquer tipo de entendimento. Não queremos bater chapa. Mas não há nova proposta, o governo está acompanhando algumas manifestações de alguns setores.

No fim de semana, a batalha será pelos rebeldes da base aliada. Jucá e Múcio deixaram isso bem claro. O governo já fez promessas de mais liberação de emendas e de ajuda aos estados e agora espera que, no fim de semana, os aliados amadureçam sobre o assunto. Os alvos são Geraldo Mesquita (PMDB-AC), Expedito Júnior (PR-RO), Romeu Tuma (PTB-SP) e César Borges (PTB-BA). O governo conta, com certeza, com 46 votos, sendo que precisa de 49 pró-CPMF.

- Votaremos na terça-feira, de qualquer jeito - disse Jucá.

O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, admitiu que os governadores tucanos - Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), em especial - têm conversado com os senadores, mas que a intenção, por enquanto, é votar contra. Ele disse que, até agora, o governo não apresentou qualquer nova proposta ao PSDB:

- Não conheço nenhuma proposta. E não vejo condição efetiva de mudança. Conheço a equipe econômica. Eles estão sem voto, isso sim. Era nossa a proposta de mais recursos para a saúde, e não aconteceu nada. O Lula faz um discurso de um lado, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) fala besteira de outro, não tem jeito - disse Sérgio Guerra.

Temporão: um "day after" dramático

No plenário do Senado, ontem, vários discutiram a CPMF.

- Estou enxergando a resistência em três focos contra a CPMF: a Avenida Paulista, a bancada do PSDB e a bancada do DEM, que desde o início fechou questão - provocou João Pedro (PT-AM), numa tentativa de ligar a oposição aos empresários contrários à CPMF.

- Vamos mapear a Avenida Paulista, os bancos, as grandes empresas, e vamos ver as doações feitas à campanha do candidato Lula. Se forem maiores do que as do candidato de oposição, fico quieto - reagiu Heráclito Fortes (DEM-PI).

O ministro da Saúde, José Temporão, fez ontem seu prognóstico para a eventualidade de a prorrogação da CPMF ser rejeitada pelo Senado: o setor que gerencia enfrentará uma situação horrível. Em palestra, no lançamento do segundo manual técnico da Agência Nacional de Saúde Suplementar, ele disse que fez parte das negociações com a oposição a perspectiva de crescimento do gasto do imposto com a saúde, até 2011.

- Para mim é o jogo de tudo ou nada. Aposto todas as fichas que vai ser aprovada. Se isso não acontecer, qual o impacto para a saúde? Horrível. Sem essa fonte, isso coloca um problema para mim insolúvel. Onde eu vou buscar recursos adicionais para financiar o PAC da Saúde? Seria um "day after" dramático - disse o ministro, que garantiu não ter um plano B, caso o tributo não seja prorrogado:

- O presidente (Lula) diz que quando o Corinthians montou um plano B foi atirado para o rebaixamento. Meu plano é ter os recursos necessários para que o Mais Saúde seja implementado com os R$24 bilhões, com o percentual crescente da CPMF. Estou confiante. Eu não trabalho com plano nenhum.

COLABOROU: Maiá Menezes

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