Título: Dilma: quem vota contra CPMF torce para o pior
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 08/12/2007, O País, p. 4

"É desnecessário fazer uma disputa política em torno da CPMF"

SÃO PAULO. A ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem que a oposição contrária à renovação da CPMF aposta no quanto pior, melhor. Segundo ela, a oposição dá sinais de imaturidade ao misturar disputa política e responsabilidade com o país. Para Dilma, a possível rejeição da CPMF vai resultar na redução de verbas para saúde, Previdência e programas como o Bolsa Família.

- É desnecessário fazer uma disputa política em torno da CPMF. Tem um segmento que, graças a Deus, é minoritário, que aposta no quanto pior melhor, que confunde oposição política com torcida para darmos errado. Oposição política tem que ser respeitada, é fundamental na democracia, mas é muito importante também, no amadurecimento democrático, a responsabilidade em relação ao país - afirmou. - Hoje, não votar a favor da CPMF significa reduzir concretamente gastos com a saúde, com o Bolsa Família e não investir na Previdência.

Dilma lembrou que a economia mundial passa por um momento de turbulência devido à crise das hipotecas nos EUA e disse que o Brasil precisa demonstrar maturidade política:

- O mundo hoje passa por uma turbulência significativa. A crise do subprime (no mercado hipotecário dos EUA) levou até o governo americano a tomar algumas medidas no que se refere às hipotecas. É uma responsabilidade hoje da classe política brasileira evidenciar que nós mudamos de patamar, que somos não só um governo responsável mas também uma oposição responsável - disse ela.

Para Dilma, governo deve evitar atritos com oposição

Para a ministra, o governo também deve cumprir sua parcela de responsabilidade política ao evitar confrontos desnecessários com a oposição. O presidente Lula tem atacado sistematicamente os senadores de oposição que se opõem à prorrogação da CPMF.

- Respeito os que são contrários, mas discordo deles radicalmente. Acho que eles podem cometer um grande mal ao país porque precisamos hoje de não inventarmos novidade, de não estressarmos a oposição através de mecanismos e expedientes que não são aqueles que devem pautar a relação dentro do Brasil - disse Dilma.

A ministra se referia à posição da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), contrária à renovação da CPMF. De acordo com Dilma, a posição não representa a opinião da totalidade de filiados, mas de um segmento da diretoria.

- Não conheço empresário que queira manter a carga tributária. Nem o governo quer.

Ela reconhece que a estrutura tributária precisa mudar, mas ressalta que a CPMF é o tributo menos regressivo de todos, com menor impacto na renda e no consumo dos mais pobres.

Segundo ela, a parcela do empresariado que é contra a CPMF joga contra a economia nacional por não perceber que os programas sociais, financiados pelo tributo, ajudam a tirar milhões de brasileiros da miséria e a criar um mercado interno forte, beneficiando o setor produtivo.

- Algo em torno de 16% a 17% dos grandes contribuintes da CPMF são responsáveis pela distribuição de recursos do Bolsa Família e pelo Programa de Aceleração da Saúde, com mais R$24 bilhões. Este é um país extremamente desigual, com uma distribuição de renda das mais injustas do mundo. Me parece até um contra-senso a Fiesp não perceber que no Brasil há que se fazer um grande esforço no sentido de tirar da situação de miséria um segmento importante da população.