Título: Lula é só elogios a Sarney durante visita a Macapá
Autor: Taves, Rodrigo França; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 08/12/2007, O País, p. 8

Senador nega ser candidato, mas busca consenso.

MACAPÁ e BRASÍLIA. Candidato preferido do governo para a presidência do Senado, José Sarney (PMDB-AP) recebeu inúmeras deferências e ouviu rasgados elogios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a rápida visita que fez ao Amapá, ontem. Sarney foi convidado a viajar com o presidente no Aerolula de Belém a Macapá, e ganhou o direito de anunciar, em nome do governo, o início de obras federais. Pouco adiantou. Assim que Lula entrou no avião e foi embora, Sarney disse que sua decisão está tomada e não muda: não aceitará presidir o Senado mais uma vez:

- Eu disse que não aceitava de nenhuma maneira. O presidente conhece meu ponto de vista e não insistiu.

Lula: "companheiro dos momentos mais difíceis"

Lula iniciou seu discurso na Fortaleza de São José, em Macapá, chamando Sarney de "companheiro de todas as horas" e agradecendo a lealdade do ex-presidente. Ele contou detalhes de sua relação com Sarney:

- Antes de eu tomar posse, o presidente (Sarney) veio com um papelzinho com umas letrinhas bem pequenas, e disse que eram algumas coisas com as quais eu tinha de tomar cuidado. Exatamente o que ele disse, a gente vê acontecer. O presidente Sarney tem sido um companheiro, companheiro dos momentos mais difíceis. Quero de público agradecer a lealdade e o companheirismo do companheiro Sarney - disse Lula.

Os dois se encontraram na noite de quinta-feira, no pé da escada do Aerolula, antes do embarque para Macapá. Segundo assessores do presidente, Lula foi logo dizendo o que tinha falado à imprensa a respeito da possível escolha de Sarney para presidir o Senado. Minutos antes, o presidente tinha dito saber que Sarney não quer assumir a presidência do Senado pela terceira vez. Disse também que tem juízo, e não vai interferir na decisão do PMDB.

Os dois viajaram juntos, jantaram juntos na residência oficial do governador do Amapá, Waldez Góes, e ontem reencontraram-se de manhã no hotel onde Lula ficou hospedado. Foram para a solenidade na Fortaleza de São José, ponto histórico de Macapá. Os assessores dizem, porém, que ambos tiveram poucos momentos a sós e que a sucessão no Senado não voltou a ser tratada.

Ontem, Lula assinou um decreto transferindo terras da União para o Amapá, e no discurso atribuiu a iniciativa aos pedidos de Sarney. Era uma antiga reivindicação do estado.

Apesar das negativas oficiais, foi deflagrado ontem um processo de consultas reservadas entre senadores da base aliada e da oposição para tentar criar um consenso para a candidatura de Sarney. O sinal verde foi dado depois dos encontros de Sarney com Lula em Macapá.

No fim de semana, integrantes da cúpula do PMDB terão um mapeamento das possibilidades de Sarney. O ex-presidente sugeriu em mais de uma ocasião que não deseja entrar em "bola dividida". Seus aliados já identificaram que não há resistência no DEM. A primeira sondagem no PSDB também mostrou a simpatia de senadores como Tasso Jereissati (CE). A única rejeição explícita é do líder tucano, Arthur Virgílio (AM).

Ontem, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, recebeu senadores do PMDB para tratar de demandas estaduais de cargos e liberação de emendas. E sondou a disposição de Sarney em disputar o cargo. Segundo aliados, o senador começa a demonstrar que aceitaria o apelo, mas desde que seu nome representasse uma maioria expressiva do Senado. Levantamento parcial feito por senadores do PMDB ontem indicava que, mesmo com uma eventual candidatura de Arthur Virgílio, Sarney teria cerca de 60 votos.

- Caso Sarney aceite ser o nome do PMDB, será pelos apelos. E não para se submeter a uma disputa. Ele só iria à presidência do Senado para cumprir uma missão política - disse o senador Edison Lobão, que esteve ontem no Planalto.

Nas reuniões com peemedebistas, Lula disse que Sarney é um nome de confiança para suportar pressão em votações polêmicas, além de poder pacificar o Senado depois do desgaste envolvendo Renan Calheiros. Caso o impasse seja mantido, o Planalto trabalha com o nome de Garibaldi Alves (PMDB-RN).

(*) Enviado especial