Título: PF prende quadrilha de falsos delegados da PF
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 08/12/2007, O País, p. 20

Estelionatários também se faziam passar por procuradores e auditores da Receita para dar golpe; 23 foram detidos.

SÃO PAULO. Uma quadrilha de estelionatários, cujos integrantes se passavam por delegados da Polícia Federal, procuradores do Ministério Público Federal e auditores da Receita Federal, foi presa ontem em São Paulo. Dos 27 mandados de prisão expedidos pela Justiça, a PF conseguiu cumprir 23 na Operação Repique, realizada ontem em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Sergipe, com a participação de 300 agentes.

Segundo o superintendente da PF em São Paulo, delegado Jaber Saadi, integrantes da quadrilha agiam há cerca de 20 anos, tentando vender publicidade em nome dos agentes federais. Quando não conseguiam vender os espaços de propaganda para revistas inexistentes, que diziam serem ligadas a entidades da PF, da Receita ou do Ministério Público, praticavam extorsão ameaçando fazer devassas na empresa.

Depósitos de R$700 mil na conta dos envolvidos

O delegado Adalto Ismael Rodrigues Machado, da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários da PF em São Paulo, que comandou a operação, disse que os estelionatários conseguiam informações cadastrais de empresas, como nomes de diretores e situação financeira, e partiam para o ataque. Nos últimos quatro meses, a PF identificou a movimentação de mais de R$700 mil em depósitos nas contas bancárias dos envolvidos.

As investigações, segundo Machado, começaram em maio, a partir de uma denúncia da Associação dos Servidores do Ministério Público Federal. Os policiais apreenderam, entre os 64 mandados de busca e apreensão cumpridos nos quatro estados, cópias de carteiras de identidade em branco. A quadrilha usava cartões de visita com o timbre dos três órgãos federais e nomes de funcionários verdadeiros.

- A base da quadrilha era em São Paulo. Os integrantes eram pessoas de várias formações. Havia um advogado, mas também pessoas bastante humildes. Eles não tinham um líder específico. A liderança era dividida e cada um tinha função bem definida - disse o delegado.

De acordo com o superintendente Jaber Saadi, empresários que foram vítimas dos estelionatários serão ouvidos como testemunhas de acusação:

- Sabemos quem são eles.

Os integrantes da quadrilha foram indiciados por estelionato, extorsão, formação de quadrilha, falsificação de documento público, falsidade ideológica e o uso indevido de brasões e distintivos oficiais. Somadas, as penas médias alcançam cerca de 20 anos de prisão. A PF não divulgou o nome dos presos.

Em São Paulo, além da capital, a PF cumpriu mandados em Hortolândia, Santos e Avaré. Nos demais estados a ação foi nas capitais.

Anteontem à noite, foi encontrado o corpo de um homem assassinado com três tiros, num Toyota. O morto é Luiz Carlos Figueiredo Salgado, de 37 anos, que tem passagens pelas polícias de Rio e Minas Gerais. Ele estava com seis carteiras de delegado da PF e um distintivo de procurador da República. A Polícia Civil investiga se há relação desse crime com a quadrilha.