Título: Militares suspeitos de fraude na Anac
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 08/12/2007, O País, p. 22

Oficiais de alta patente estariam envolvidos em venda de horas de vôo.

BRASÍLIA. Pelo menos dois militares da ativa da Aeronáutica que trabalham na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estariam envolvidos no esquema de fraudulento de registro de horas de vôo na habilitação de pilotos. Entre os servidores sob suspeita estão o segundo sargento Wilson Menezes Custódio, lotado na unidade do órgão no Aeroporto do Jacarepaguá, e o suboficial José Silva Júnior, da Gerência Regional de São Paulo. Os dois estão sob investigação em procedimento aberto pela própria Anac. Técnicos que participam das investigações acreditam que oficiais de alta patente também estão envolvidos no esquema, diretamente ou dando cobertura aos subordinados.

O Ministério da Defesa informou que a futura presidente da Anac, Solange Vieira, foi informada da investigação. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, segundo sua assessoria, já determinou que todo o aparato de fiscalização da Anac seja revisto. O Centro de Comunicação da Aeronáutica (Cecomsaer) disse que saber da sindicância, mas informou que só vai se pronunciar depois da conclusão dos trabalhos. A sindicância termina em 30 dias, segundo a Anac.

Propina de até R$8 mil por licença de vôo

O envolvimento de militares no esquema de registro de horas falsas foi identificado pelo Ministério Público Militar em abril. Em ofício à direção da Anac, promotores pediram informações sobre o assunto e mencionaram a suspeita de cobrança de propina de R$5 mil a R$8 mil pela obtenção de licença.

Reportagem publicada no último domingo pelo GLOBO revelou que funcionários da Anac usavam senhas para inserir horas de vôo inexistentes no banco de dados do órgão. Eles registravam as horas irregulares na CIV (Carteira Individual de Vôo) e emitiam declarações falsas, atestando ao piloto uma experiência que ele não tem.

Citado na investigação da Anac, o piloto Marcelo de Biase disse que suas horas de vôo foram acumuladas no exterior:

- Fui habilitado pelos Estados Unidos. Minha primeira licença é de piloto recreativo. Somente em ultraleves possuo mais de três mil horas. A licença americana de piloto privado e as horas que tenho não foram "canetadas", porque lá não existe este tipo de fraude! No Brasil, tudo se compra.

Segundo ele, seu registro seguiu processo regular nos órgãos competentes no Brasil e foi vistoriado por coronel da Aeronáutica. Também procurado, o sargento Menezes não retornou a ligação. Ele estaria de férias.