Título: 9 feridos em tiroteio
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 20/04/2009, Brasil, p. 8

Governo do Pará envia policiais para garantir segurança na área da Fazenda Espírito Santo, pertencente ao banqueiro Daniel Dantas.

Entrada da fazenda ocupada pelo MST: polícia investiga versões diferentes sobre o confronto Um grupo de 40 policiais militares, portando armamento não letal, já está na região de Xinguara e Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, para garantir a segurança no local. Na tarde de sábado, houve troca de tiros entre trabalhadores sem-terra e seguranças da Fazenda Espírito Santo, pertencente ao grupo Santa Bárbara, que tem como um dos donos o banqueiro Daniel Dantas. Segundo o governo do estado, oito integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e um segurança da fazenda ficaram feridos. Ninguém corre risco de morte. Autoridades policiais investigam as versões para o episódio dos trabalhadores e dos funcionários da fazenda.

Para reduzir o clima de tensão, o delegado-geral da Polícia Civil estadual, Raimundo Benassuly, e o comandante-geral da PM, Dário Teixeira, decidiram iniciar o desarmamento dos dois grupos. Em entrevista ao Correio, a governadora Ana Júlia Carepa (PT) disse que enviou força policial para restabelecer a ordem no local, investigar e punir os autores dos disparos. ¿Não vamos medir esforços para resolver o conflito fundiário no estado¿, afirma.

Jornalistas e funcionários da fazenda que presenciaram o confronto contaram que foram feitos reféns dos sem-terra. O cinegrafista Felipe Almeida, da TV Liberal, afirmou que ele, o repórter Vitor Haor, da mesma emissora, e mais os jornalistas João Freitas e Felipe Almeida, ambos da RedeTV, ficaram ¿reféns de líderes do MST dentro da fazenda¿. Segundo Almeida, foram 10 minutos de pânico e os jornalistas acabaram usados como escudo pelos sem-terra. O chefe da Casa Civil do Pará, Cláudio Puty, disse que informações preliminares não confirmam a versão dos jornalistas. ¿Policiais de Redenção (cidade próxima a Xinguara) garantiram que não houve cárcere privado de jornalistas e funcionários da fazenda¿, afirmou. O que houve, segundo os policiais, foi que durante o tiroteio a estrada de acesso à propriedade foi bloqueada, o que impediu a saída de quem estava na propriedade.

Brenda Santis, advogada da Santa Bárbara, garante que desde a manhã de sábado tentou alertar à polícia para a possibilidade de um conflito. ¿Fui pela manhã à Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá e conversei com o delegado Alberone Lobato e alertei para a possibilidade de haver um confronto, pedi para registrar ocorrência, mas não tinha escrivão.¿

Segundo a assessoria do grupo, na manhã de sábado, pelo menos 50 sem-terra roubaram um caminhão que trazia materiais de construção para a fazenda e seguiram em direção à sede, com palavras de ordem e armas de fogo. ¿O clima ficou tenso e os invasores partiram para a agressão do grupo de jornalistas, funcionários e seguranças. Carros da fazenda foram alvejados por balas. Na reação, os seguranças da fazenda atingiram um invasor. Ambos (o segurança e o invasor) foram levados em um avião da fazenda para hospitais em Marabá¿, diz a nota da assessoria.

Outro lado Coordenador do MST do Pará, Francisco Moura conta outra versão. De acordo com ele, a confusão começou por volta das 14h de sábado, quando os seguranças da fazenda tentaram impedir que os sem-terra, acampados em uma parte da propriedade, colhessem palhas na propriedade. ¿Os pistoleiros da fazenda sequestraram dois trabalhadores e os levaram a um retiro, local que abriga casas de funcionários da fazenda. Depois do sequestro, alguns sem-terra voltaram ao acampamento e pegaram foices, enxadas e facões para resgatar nosso colega¿, conta Moura.

Também coordenadora do MST, Maria Raimunda diz que os seguranças atiraram primeiro, no momento em que os trabalhadores tentavam resgatar os companheiros presos pelos seguranças. O movimento diz ainda que não são oito trabalhadores feridos, mas nove.

Na opinião do advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), José Batista, a polícia deve aumentar o efetivo na área. ¿Ficamos preocupados, pois os fazendeiros contrataram seguranças particulares armados para defender suas terras a qualquer preço¿, observa. Segundo Batista, a Justiça local já suspendeu várias liminares de reintegração de posse, inclusive algumas de autoria do grupo Santa Bárbara, ¿por entender que as terras são públicas e não poderiam ter sido vendidas a terceiros¿, afirma.

Ontem de manhã, camponeses ligados a movimentos pró-reforma agrária bloquearam as pistas da PA-150, onde, há 13 anos, ocorreu o massacre de Eldorado dos Carajás. Na ocasião, 22 trabalhadores foram mortos por policiais militares. A manifestação de ontem, que lembrava a tragédia, terminou pacificamente.