Título: ElBaradei propõe ciclo de combustível coletivo
Autor: Azevedo, Cristina
Fonte: O Globo, 08/12/2007, O Mundo, p. 52

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed ElBaradei, defendeu ontem no Rio de Janeiro a criação de um processo multinacional para produção de combustível nuclear. Nele, cada país deteria uma parte do processo, a produção seria coletiva e haveria fiscalização internacional, gerando mais transparência.

No seminário "Energia nuclear como alternativa sustentável?", no Centro de Convenções da Firjan, ElBaradei lembrou que quem detém o ciclo da produção de combustível nuclear é capaz de produzir a bomba.

- Propomos que o ciclo do combustível seja coletivo, de modo que um país não detenha conhecimento isolado - disse ele, explicando que a proposta é apoiada pela Alemanha.

Segundo ele, isso também ajudaria a evitar que um país produtor de matéria-prima suspenda, por motivos políticos, o fornecimento a outros. Ele defendeu a cooperação entre países e citou acordos bilaterais entre Brasil e Argentina.

Logo após a palestra, o ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, no entanto, disse que o programa nuclear brasileiro prevê o domínio de todo o ciclo do urânio.

- Até 2030 teremos de 9 a 13 usinas em operação alimentadas por combustível nuclear totalmente produzido aqui - disse o ministro, reafirmando o compromisso com o uso pacífico da energia atômica.

ElBaradei defendeu o uso da energia nuclear, lembrando a grande demanda por energia e a instabilidade em regiões produtoras de petróleo. Segundo ele, "muitos falam no renascimento da energia nuclear, mas ela ainda depende de vários fatores".

- O acidente de Chernobyl retardou a aceitação da energia nuclear - lembrou.

Ele destacou a necessidade da não-proliferação de armas nucleares, de garantir um sistema padronizado internacional de segurança e repositórios seguros para lixo nuclear, para evitar que caia "em mãos erradas, de terroristas, extremistas".

- Sabemos que os países têm de se desarmar. Não podemos viver num ambiente tão hostil como vemos.

A meta é difícil, reconhece. Ele acha que Israel pode tender a se desarmar dentro de um processo de paz e destacou progressos com a Coréia do Norte, mas não vê solução a curto prazo para Índia e Paquistão aderirem a um plano global.