Título: Uribe cria área de encontro com as Farc
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Fonte: O Globo, 08/12/2007, O Mundo, p. 53

Zona de negociação com a guerrilha pode ser delimitada em qualquer lugar da Colômbia.

BOGOTÁ e BRASÍLIA. O presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, aceitou ontem criar uma zona de negociação com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) dentro do país. A área será desmilitarizada, terá cerca de 150 quilômetros quadrados e poderá ser delimitada em qualquer região pouco populosa do interior do país. A medida é apontada por analistas como mais um esforço de Bogotá para negociar com os guerrilheiros e conseguir a libertação de reféns.

- O lugar deve ser, de preferência, rural e com pouca população. Mas deverá ter a presença de observadores internacionais - disse o presidente.

Em seu discurso, transmitido ao vivo pela TV, Uribe afirmou ainda que foi criado um fundo de US$100 milhões, ligado ao Ministério da Defesa, para o pagamento de recompensas aos guerrilheiros que entreguem às autoridades as pessoas em cativeiro. O presidente também ressaltou que pode encabeçar o encontro e não teme ir até a zona de negociação conversar com os guerrilheiros:

- Estamos prontos para uma negociação que resulte na libertação dos reféns. Estamos dispostos a fazer isso o mais rápido possível.

Lula pode participar das negociações

Uribe afirmou, ainda, que todos os participantes do encontro devem estar desarmados e destacou que deu a autorização ao Alto Comissário para a Paz, Luís Carlos Restrepo, e à Comissão de Conciliação Nacional a fim de buscarem de "maneira urgente" uma data para a reunião. Antes do anúncio, Uribe consultou o governo francês, os chefes militares da Colômbia e o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos. A decisão do líder colombiano ocorreu um dia depois de o presidente da França, Nicolas Sarkozy, fazer um apelo em que pedia a libertação de Ingrid e outros reféns antes do Natal.

Estima-se que as Farc mantêm 750 pessoas como reféns, e a negociação com Bogotá envolve 45 pessoas, entre políticos e militares colombianos e estrangeiros. No grupo está a ex-candidata à Presidência Ingrid Betancourt, seqüestrada há seis anos. Na semana passada, uma foto de Ingrid na selva foi divulgada. Após o episódio, a mãe de Ingrid, Yolanda Pulecio, pediu a ajuda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas negociações para libertá-la. Recentemente, Uribe afastou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, do processo de mediação com as Farc, o que levou a uma crise diplomática entre os dois países.

- Deixando de lado todas as palavras supérfluas, podemos ver que o anúncio da zona de negociação é um gesto positivo do presidente Uribe - declarou a mãe de Ingrid, Yolanda Pulecio.

Já a possível mediação do governo brasileiro será tratada em um café da manhã entre Lula e Uribe, na segunda-feira, em Buenos Aires, onde os dois estarão para a posse da presidente eleita Cristina Kirchner. O governo da França, preocupado com a situação de Ingrid - que tem dupla nacionalidade franco-colombiana - também pediu que Lula entre na negociação.

Ontem o filho de Ingrid, Lorenzo Betancourt, enviou uma mensagem à sua mãe por uma rádio colombiana: "Espero que esteja segura e que retorne logo. Estamos te esperando. Te amo muito", disse Lorenzo.

Colaborou: Luiza Damé