Título: Racha anunciado em 2008
Autor: Camarotti, Gerson; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 09/12/2007, O País, p. 3

Divisão de palanques é problema comum que ameaça unidade de governistas e oposição.

Ogoverno e a oposição têm uma preocupação comum em relação às eleições municipais do próximo ano: tudo indica que a divisão dos palanques nas principais capitais terá reflexos negativos na sucessão presidencial de 2010. Por isso, a cúpula do Palácio do Planalto e as dos partidos de oposição passaram a trabalhar para que o racha que se anuncia em 2008 tenha efeitos reduzidos no pleito nacional.

Por isso, com quase um ano de antecedência, a cúpula palaciana de um lado, e os comandos de PSDB e DEM, de outro, começaram a mapear os principais palanques das eleições municipais, na tentativa de diminuir as divergências locais. Os dois grupos estão tentando criar um pacto de convivência entre os seus aliados, principalmente em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre, os principais palanques municipais que preocupam governo e oposição.

Tudo indica que essa divisão na sucessão municipal do próximo ano deve gerar uma fragmentação de candidaturas em 2010 nesses dois campos. No Planalto, a preocupação é a de que a divisão prejudique a uma unidade da base governista em 2010. Já na oposição o grande temor é o de que a disputa antecipada entre PSDB e DEM contamine um entendimento para uma candidatura única, em torno de um tucano à Presidência.

O problema já foi detectado nas principais capitais brasileiras. A cidade de Salvador é um bom exemplo. A oposição está dividida entre o deputado ACM Neto (DEM) e o ex-prefeito Antonio Imbassay (PSDB). Já a base governista tem vários nomes na disputa, como o o atual prefeito, João Henrique (PMDB), Lídice da Mata (PSB), Nelson Pelegrino (PT), Olívia Santana (PCdoB) e Raimundo Varela (PRB).

- Ninguém estará unido em Salvador. Isso mostra que deve haver um cenário de divisão em 2010 - reconheceu o vice-líder do PSDB, deputado Jutahy Junior.

O mesmo ocorre em São Paulo. Enquanto tucanos e democratas devem sair divididos com as candidaturas do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM), o PT rachou com o bloco de esquerda. Os petistas pressionam a ministra do Turismo, Marta Suplicy, para disputar a eleição, e os partidos de esquerda podem fechar apoio à candidatura do deputado federal e ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB).

Lula avisou que não participará das eleições

O Planalto percebeu que o bloco de esquerda (PSB-PDT-PCdoB) vai rivalizar com o PT em quase todas as grandes capitais, para fortalecer a candidatura do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) à Presidência. Tanto que Lula já avisou que não vai participar das eleições do próximo ano.

- O presidente Lula determinou que o ideal seria unificar os palanques governistas no maior número possível de cidades - diz o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

Essa unidade, no entanto, não será nada fácil. Em Fortaleza, a senadora Patrícia Gomes (PDT) chegou a mudar de partido para poder disputar com a prefeita Luizianne Lins (PT). Já a oposição está dividida entre Moroni Torgan (DEM) e Marcos Cals (PSDB).

- Não podia deixar de disputar a eleição por uma unidade nacional. Isso ocorre em todas as grandes cidades. Esse cenário pode levar a uma fragmentação das alianças em 2010 - admitiu a senadora Patrícia Gomes.

Em Recife, ocorre o mesmo. A oposição tem quatro candidatos e o governo deve ficar dividido. Tanto que o atual prefeito da capital, o petista João Paulo, já mandou ameaças ao bloco de esquerda, dizendo que a divisão em 2008 pode atingir uma aliança estadual em 2010.

- A tendência das grandes capitais sinaliza para o que deve ocorrer na disputa presidencial. Agora temos que ter consciência de que essas candidaturas não podem ser para dividir. Mas sim para somar forças numa disputa em segundo turno - disse o deputado Raul Henry (PMDB-PE), candidato à prefeitura do Recife.

Tucanos e democratas estão especialmente preocupados com a divisão de palanques em São Paulo. A tentativa do comando dos dois partidos é a de evitar, no que for possível, seqüelas na capital paulista e também em outras grandes cidades, para que haja um diálogo em 2010.

- Temos que evitar gerar mágoas para possibilitar um entendimento futuro - advertiu o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP).

- Se não cuidarmos agora da relação entre os aliados, haverá seqüelas, o que não é bom - reforçou o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ).