Título: Oficiais das Forças Armadas dão baixa para tentar outros cargos
Autor: Freitas, André
Fonte: O Globo, 09/12/2007, O País, p. 17

ÊXODO NA MARINHA: Força confirma 315 pedidos de saída entre 2000 e 2006.

Marinha diz que busca por melhores salários é o principal motivo.

Uma silenciosa revolta do oficialato, que começa nos conveses dos navios e termina nos bancos dos cursinhos preparatórios para concursos, tem abatido parte dos quadros da Marinha. A Força, que se envolveu em importantes movimentos de insatisfação nos últimos dois séculos, agora perde seus oficiais de maneira discreta, mas constante. Militares, não só da Marinha, se esforçam para deixar as Forças Armadas e assumirem outros cargos públicos civis.

Na Academia do Concurso Público, no Rio, a insatisfação já foi percebida e virou filão de mercado. Nos últimos oito anos, nada menos que 11.810 militares das três Forças passaram pelas salas de aula do curso. Em novembro, 1.584 militares se prepararam lá para tentar deixar a carreira.

Em nota, o Centro de Comunicação Social da Marinha confirmou que seus quadros estão inseridos nesse processo e que a busca por outras carreiras com melhores salários no serviço público é o principal motivo para os pedidos de baixa de oficiais. A Força informou ter concedido baixa a 315 oficiais entre 2000 e 2006. No ano passado, foi registrada a maior perda de quadros: 72, o equivalente a seis saídas por mês. Nos mesmos sete anos, a Marinha formou 2.318 novos oficiais, uma média de 331 por ano. Os números revelam que, a cada sete militares admitidos na carreira, um é dispensado. No ano passado, essa relação foi mais preocupante: quatro ingressos por baixa.

Fábio Gonçalves, diretor da Academia do Concurso, explicou seu curso oferece bolsa de 50% para qualquer militar.

- É só chegar na secretaria, comprovar que é militar e dizer que quer fazer concurso público - explicou ele, que vê três motivos para o êxodo. - Primeiro, eles procuram cargos públicos, querem manter a estabilidade. O plano de carreira militar também é longo demais e, os salários, considerados baixos. Na Marinha, por exemplo, o guarda-marinha, após cinco anos de formação, ganha pouco mais de R$2 mil. Quando sai da Escola Naval, descobre que um auditor fiscal ganha de imediato R$12 mil, salário que talvez ele não tenha ao se aposentar. Por último, querem qualidade de vida.

Gonçalves conta ainda que muitos alunos já querem deixar a carreira antes de ingressar nela. Começam a se preparar ainda na Escola Naval, estudando aos sábados ou nas férias, escondidos dos superiores.

COLABOROU Bernardo Mello Franco