Título: Estatais sairão vencedoras da disputa, não importa o resultado
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 09/12/2007, Economia, p. 50

Subsidiária da Eletrobrás terá até 49% do capital da companhia que tocará projeto.

BRASÍLIA. O leilão da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, já tem um vencedor conhecido, muito antes de o leiloeiro bater o martelo virtual. Será o governo federal, na forma do grupo Eletrobrás, que está presente nos três consórcios em disputa, por meio das subsidiárias Eletrosul, Furnas e Chesf. Para os analistas do setor, há ainda um favorito entre os grupos que lutam para ter o direito de construir a maior hidrelétrica brasileira dos últimos 13 anos. Trata-se do consórcio Madeira Energia, capitaneado pela Construtora Norberto Odebrecht e as estatais Furnas e Cemig, de Minas Gerais. Ainda assim, os observadores concordam que será um leilão bastante disputado.

Pela primeira vez, desde os anos 80, o Executivo federal dará o tom às megaobras do setor elétrico. Para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será uma vitória. Sem recursos para bancar todos os empreendimentos do setor e pressionado pelo risco de falta de energia a médio prazo, a solução encontrada foi o modelo misto: as estatais poderão ter até 49% do capital da empresa que tocará o negócio. Assim, dizem os analistas, o governo não se afasta das decisões, preserva a estratégia de fortalecimento do Estado e afasta o risco de parecer estar privatizando o setor elétrico.

- A hidrelétrica de Santo Antônio representa a volta das estatais ao setor elétrico e aos grandes empreendimentos - diz o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Estudos em Infra-Estrutura.

Ganha o leilão quem apresentar menor tarifa

O Brasil conta com empreendimentos que geram 102.453 megawatts (MW), dos quais 75% saem de usinas hidrelétricas. O potencial hídrico também é a força motriz de 78,5% das unidades de geração em construção - embora represente, hoje, apenas um terço dos 21.032 MW que serão produzidos por usinas já liberadas para serem construídas (outorgadas).

O consórcio da Odebrecht é a maior aposta do setor. Afinal, foram eles quem fizeram os estudos de inventário e viabilidade técnica para a obra e têm essa vantagem em relação aos concorrentes. Especula-se que esse capital será suficiente para ajudá-los a fazer uma previsão de custo menor para o projeto.

Ganhará o leilão quem apresentar a menor tarifa de energia, suficiente para financiar o investimento por 30 anos. Para isso, é preciso calcular a obra a um preço mais em conta, abaixo dos R$9,2 bilhões previstos.

- Eles, mais que ninguém, conhecem o projeto em seus detalhes e por isso têm mais capacidade de levar o preço das tarifas para baixo. Além disso, a Cemig já tem grande experiência com as turbinas bulbo (nova tecnologia usada) - diz o economista Diego Nuñez, analista de energia do Banco Brascan.

Valor estipulado para tarifa máxima é considerado baixo

Mas, como o governo já estipulou um valor considerado baixo para a tarifa máxima (R$122,00 o megawatt), os competidores terão pouco espaço para reduzi-la, diz Nuñez. Por isso, valerá a engenharia financeira montada por cada grupo e sua estratégia no leilão.

Essa é a principal vantagem do consórcio Energia Sustentável do Brasil, formado por Suez Energy South America e Eletrosul. Os analistas apontam que o grupo Suez, da França, tem bastante dinheiro em caixa e precisa buscar grandes investimentos mundo afora. Nesse cenário, o consórcio Ceisa, que tem a Construtora Camargo Correa, a Endesa, a Chesf e a CPFL, surge como azarão.