Título: Gastos militares aumentam em toda a região
Autor: Valente, Leonardo
Fonte: O Globo, 09/12/2007, O Mundo, p. 58

Especialistas, no entanto, descartam corrida armamentista e dizem que fenômeno é para inverter sucateamento

O recente aumento dos gastos militares, principalmente de Chile e Venezuela, despertou temores de que a América do Sul estivesse passando por uma corrida armamentista. Especialistas, no entanto, afirmam que, apesar das rivalidades existentes na região, o que acontece atualmente é uma modernização das Forças Armadas, que por décadas passaram por um forte processo de sucateamento.

O Chile lidera em percentual de gastos em modernização militar, com cerca de US$3 bilhões anuais. A chamada lei do cobre, principal matéria-prima do país, estipula que 10% da receita bruta, proveniente das exportações do metal, seja destinada às Forças Armadas. O país comprou recentemente 16 caças F-16 dos Estados Unidos, considerados de primeira linha, tanques alemães Leopardo 2, que estão entre os melhores do mundo, e investe na profissionalização de seu efetivo. Já a Venezuela, mesmo sofrendo um boicote na venda de armamentos pelos EUA, gastou no último ano US$2,2 bilhões em armamentos. Foram comprados da Rússia no ano passado, entre outros armamentos, 24 caças Sukhoi-30 e Sukhoi-35, cem mil fuzis AK-103 e dez helicópteros de última geração. O presidente Hugo Chávez anunciou recentemente que pretende desenvolver com tecnologia estrangeira mísseis de curto alcance.

No entanto, os temores de que Caracas possa intervir militarmente no continente, especialmente na Bolívia, como já sugeriu Chávez por causa da crise interna no país, são descartados por analistas.

- A Venezuela não tem condições de intervir militarmente na Bolívia. Além dos problemas logísticos para isso as condições internas do país e internacionais não permitem - disse o professor de relações internacionais Luiz Alberto Moniz Bandeira.

Brasil também planeja modernização das tropas

Para o professor Michael Radseck, pesquisador do Instituto de Estudos Ibero-Americanos de Hamburgo, na Alemanha, a compra de equipamentos por Chávez visa muito mais a armar a população civil, por meio das milícias, do que ameaçar seus vizinhos.

- Ele (Chávez) diz que pretende evitar uma invasão americana usando a tática de guerrilha. Mas a verdade é que os aviões comprados da Rússia ainda precisam de pistas de pouso adequadas para poderem operar e o fuzis comprados não servem para guerras convencionais. Podem sim, aumentar a violência no país e favorecer o tráfico de armas na América do Sul, aumentando a criminalidade em outros países - afirmou.

Peru e Equador também fizeram compras recentes de aviões e tanques e aumentaram seus orçamentos. Já a Argentina enviou especialistas em defesa recentemente à Europa para estudar as melhores alternativas de compras de armamentos, sinalizando que também poderá aumentar seus gastos. O Brasil, que tem o maior orçamento militar da região (cerca de US$6 bilhões) mas que vinha perdendo para os vizinhos em modernização, anunciou que também vai aumentar os gastos militares. Entre as planos estão a construção de um submarino com propulsão nuclear, projeto antigo mas que estava arquivado, e a compra de equipamentos para o monitoramento da Amazônia.

- Após décadas de sucateamento e redução de gastos, o que observamos agora é uma onda de novas aquisições, o que é normal - afirmou Radseck.