Título: Sem os 49 votos, novo adiamento
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 11/12/2007, O País, p. 3

CONFRONTOS NO CONGRESSO

Governo é levado a deixar votação da CPMF para amanhã, e abre o cofre

Com um balcão de negociação aberto para tentar garantir os 49 votos necessários para aprovar a prorrogação da CPMF até 2011, o governo decidiu ontem, mais uma vez, adiar para amanhã ou depois a votação da emenda constitucional no Senado. E ontem se mostrava disposto a correr o risco de tentar a votação no mesmo dia da eleição do novo presidente do Senado. A estratégia é começar hoje a discussão da CPMF em plenário, mas deixar a votação para o dia seguinte. Até lá, o governo quer consolidar os votos que busca nessa reta final. Ontem, para não parecer um recuo, a desculpa para adiar pela segunda vez a votação era de que a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), e o senador Flávio Arns (PT-PR) estão com problemas de saúde e não poderiam comparecer para votar.

A decisão de deixar a votação para amanhã foi tomada pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), depois de mapear os votos em reunião com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio. Com o novo adiamento, mesmo se a CPMF for aprovada amanhã, o segundo turno só deverá ser realizado depois do Natal, nos dias 26 ou 27. Se não houver acordo de todos os líderes para quebrar o interstício de cinco dias e três sessões, será preciso uma autoconvocação do Congresso, já que o recesso parlamentar começa oficialmente dia 24, uma segunda-feira. Mas a oposição já avisou que não quer acordo.

- Vou tentar um acordo com a oposição sobre os prazos. Senão, será votado nos dias 26 e 27 - disse Jucá.

A pressão ontem aumentou, e os deputados foram convocados a aparecer no plenário do Senado para convencer senadores do mesmo partido. O governo avalia ainda que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, terá que aumentar as propostas aos governos estaduais ao longo do dia de hoje para garantir os votos. Mantega estava na Argentina.

Os líderes da base esperam resolver a questão interna no PMDB hoje, na escolha do novo presidente da Casa, marcada para amanhã, antes da votação da CPMF.

- Queremos votar quarta-feira . O problema é que não posso abrir mão de dois votos, e os senadores Flávio Arns e Roseana não poderão comparecer amanhã (hoje) - desculpou-se Jucá, descartando deixar a votação da emenda para 2008 como alguns defendiam:

- Queremos bater chapa ainda esse ano.

Viana diz que questão não é uma brincadeira

O novo adiamento deixou irritado o presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), que anunciou que manteria a CPMF em pauta hoje:

- Para mim, foi uma decisão tomada e não se pode tratar uma questão desta natureza como se fosse brincadeira de crianças. A sessão será amanhã (hoje) e a votação será amanhã (hoje). Não conversei com Jucá e acredito que ele terá muita dificuldade em justificar um adiamento.

A barganha junto a governadores nos estados e aos senadores foi intensificada ontem. Apesar da pressão, o senador Expedito Júnior (PR-RO) continuava ontem afirmando que votará contra, mas está na lista do governo.

- Nunca na história deste país o estado de Rondônia foi tão assediado - brincou Expedito Júnior, no plenário.

Logo depois, foi cercado pelo líder do PR na Câmara, Luciano de Castro (RR), e cumprimentado pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), responsável pelas questões do Orçamento de 2008. O PR ameaça punir quem votar contra, mas César Borges (PR-BA) avisou que manterá sua posição contra a CPMF.

- Não estou pressionado, estou convencendo - disse Luciano de Castro.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), esteve no Senado para lembrar, discretamente, que o partido pode expulsar os senadores que votarem a favor da CPMF. O governo investe em Jonas Pinheiro (DEM-MT), que é pressionado pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi. Ontem, ele dizia que estava indeciso, mas o DEM acredita que ele votará com o partido.

A oposição critica o governo:

- O governo tinha a palavra empenhada, mas parece que não. Gostaria que fosse como no Japão. Promete que vai votar de um jeito e, se não votar desse jeito, terá que fazer haraquiri (suicídio) - disse o líder Arthur Virgílio, anunciando para as 13h de hoje uma reunião do PSDB para reforçar o voto contra a CPMF e discutir a sucessão no Senado.

- Qual é a credibilidade do governo para fazer compromissos e não votar amanhã? Nós não aceitamos adiar. Não é questão de ter votos ou não, é questão de ter palavra ou não -- concordou o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN).