Título: Em MT, protesto indígena faz 300 pessoas presas
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 11/12/2007, O País, p. 14

Índios querem indenização maior por construção de usinas.

CUIABÁ. Armados de arco e flecha, cerca de 80 índios guerreiros da etnia enawenê nawê estão mantendo como reféns os trabalhadores de três das cinco pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) em construção no Rio Juruena, no Norte de Mato Grosso. Embora garanta que a situação é de tranqüilidade, a Polícia Militar acredita que ao menos 300 pessoas estejam impedidas de deixar a área. Não há informações sobre pessoas feridas.

Os índios reclamam dos valores estipulados para a compensação financeira pela construção das usinas, que trariam danos ambientais às aldeias. Segundo a Funai, as obras não estão dentro das reservas, mas afetariam o ecossistema onde vivem os índios.

Avaliadas em R$500 milhões, as cinco PCHs estão sendo construídas pelo Consórcio Juruena Participações e Investimentos, controlado por investidores brasileiros. O GLOBO tentou contato com os responsáveis pelas usinas, mas um dos diretores disse que o consórcio não daria declarações. Há estudos para a construção de 11 PCHs no Rio Juruena.

Compensação seria dividida entre cinco etnias

O protesto começou na quinta-feira, quando os indígenas fecharam a Estrada do Pontal, via de 101 quilômetros que liga o município de Campos de Júlio a fazendas e às usinas. O protesto prejudicou fazendeiros, que ficaram sem acesso às propriedades. No sábado, os índios aceitaram liberar a estrada, mas acamparam na entrada de três das cinco PCHs. No fim de semana, o grupo que atua nas negociações levou mantimentos para operários e índios.

O licenciamento das obras foi condicionado ao pagamento de R$4,5 milhões como compensação às aldeias afetadas. O dinheiro seria destinado à Funai, que o empregaria em projetos de sustentabilidade dos enawenê nawê e outras quatro etnias: myki, nhambiquara, cinta-larga e rikbaktsa. O dinheiro seria dividido em partes iguais, o que contrariou os enawenê nawê. Eles pedem uma fatia maior do bolo, por serem o grupo mais atingido pelas usinas.

Uma reunião às 10h de hoje pode acabar com o impasse. O encontro vai reunir índios, representantes do consórcio, estado, Ibama, Funai ne Ministério Público Federal.