Título: Hall do prédio vira banheiro
Autor: Ordoñez, Ramoa; Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 11/12/2007, Economia, p. 27

Manifestantes furam esquema de segurança e atrasam leilão. Sete são presos.

BRASÍLIA. Mulheres e homens, com cerca de 15 crianças, furaram o esquema de segurança montado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para o leilão da usina de Santo Antônio. Isso, apesar do custo de R$1,4 milhão do leilão, dos quais R$800 mil destinados à blindagem do local. Os manifestantes invadiram o hall do prédio da agência por volta das 5h20m e saíram perto das 10h, horário marcado para o início da licitação. Houve tumulto e acusação de agressão policial. Sete pessoas foram presas.

O protesto, anunciado, reuniu representantes de Movimento de Atingidos por Barragens, Manifestantes contra a Transposição do Rio São Francisco, Comissão Pastoral da Terra, Federação Integrada do Madeira e Via Campesina. O prédio chegou a ficar sem luz por mais de duas horas, porque os disjuntores foram desligados, numa tentativa de esvaziar a sala.

- Queremos marcar posição contra a privatização das águas no Brasil e abrir o diálogo com a sociedade. Está ocorrendo a desnacionalização dos nossos rios - disse Marina dos Santos, da Via Campesina.

O bloqueio provocou um atraso de quase três horas no leilão, que começou às 12h39m. A PM, que mobilizou 220 homens, argumentou que foi surpreendida.

- Eles chegaram mais cedo do que o esperado. O efetivo da polícia estava aqui desde as 5h30m, mas não em número suficiente para evitar a invasão. A maior parte da tropa chegou às 7h20m - disse o coronel Luís Renato Fernandes Rodrigues, da PM do Distrito Federal.

Segundo a PM, havia 80 manifestantes. Para os organizadores do protesto, eram 300. Entre os presos, havia uma mulher com o filho de 6 anos.

Os manifestantes - que carregavam grande quantidade de água e pão - deixaram o prédio da Aneel imundo. Eles usaram uma sala do hall do prédio como banheiro, onde urinaram e defecaram, rasgaram cartazes e picharam paredes.

A polícia negou que tenha havido violência e assegurou que tentou negociar. A tropa de choque, com 75 homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), fez um círculo ao redor dos manifestantes e um "arrastão". Na saída, eles foram empurrados, mas mantiveram o brado de "o povo unido jamais será vencido".