Título: Cuba ¿evita¿ acordo final
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 20/04/2009, Mundo, p. 14

Apesar da falta de consenso entre os 34 líderes na assinatura da declaração, encontro se encerra com a expectativa de nova era nas relações com os EUA. Obama admite fracasso das políticas sobre Havana

Os ventos vindos de Cuba sopraram forte em Trinidad e Tobago e determinaram o rumo da quinta edição da Cúpula das Américas. Por conta do embargo norte-americano à ilha comunista, os 34 chefes de Estado e de governo não conseguiram entrar em acordo sobre todos os pontos da declaração final. Ainda assim, o encontro foi considerado extremamente positivo e o consenso é de que acaba de ser virada uma nova página nas relações entre a Casa Branca e líderes antes considerados párias por Washington, como o venezuelano Hugo Chávez e o boliviano Evo Morales.

¿A declaração em si não tem a completa aprovação dos 34 países. Alguns manifestaram reservas. Mas concordamos em adotar este documento, já que ao adotá-lo, reconhecemos que não há unanimidade e sim um grande consenso sobre estas questões importantes¿, disse Patrick Manning, premiê da nação anfitriã. Outros temas que travaram o acordo foram a escassa referência à crise financeira global e discussões sobre quais países são democráticos e quais não são.

A expectativa maior é de que o primeiro encontro do presidente Barack Obama com líderes da região ajude na conciliação entre o regime cubano e o governo dos EUA. Um indício desse movimento foi dado ontem pelo próprio Obama. Numa espécie de mea-culpa, ele admitiu que meio século de políticas americanas para Cuba ¿não funcionaram¿, mas descartou mudanças rápidas. ¿Estas políticas de Washington para Cuba não funcionaram como nós desejávamos, já que o povo cubano não é livre.¿

No entanto, Obama acrescentou que elas ¿não mudarão da noite para o dia¿. ¿Temas como os dos prisioneiros políticos, liberdade de expressão e democracia são importantes, mas não podem ser deixados de lado¿, explicou.

Lula Em entrevista publicada hoje pelo jornal espanhol ABC, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou a Obama que não espere gestos de Cuba. Segundo ele, a ilha socialista tem um ¿grande valor simbólico na América Latina¿. ¿A exclusão de um dos países do continente (da cúpula) foi um ato unilateral e permanece uma anomalia¿, declarou.

Lula reconheceu que a reunião em Port of Spain, capital de Trinidad e Tobago, abriu uma nova dinâmica nas relações entre os países do continente. ¿Devemos ter respeito por nós mesmos para que nos respeitem. Não temos que continuar pedindo favores. Vamos deixar essa ideia de que somos pequenos e pobres e que alguém tem que nos ajudar. Nós, e não os Estados Unidos, temos de resolver nossos problemas¿, disse Lula, ao fim do encontro. O brasileiro defendeu a criação de ¿uma nova dinâmica, de companheirismo e de contribuição¿.

Sobre a possibilidade de o governo brasileiro exercer um papel de mediador na aproximação entre Obama e Castro, Lula afirmou que, mesmo com o ¿apoio da Patagônia ao México¿ ao fim do embargo comercial dos EUA a Cuba, nem Havana nem Washington pediram ao Brasil que seja intermediário. Já Obama mais uma vez acenou com a disposição em manter uma relação profícua com os vizinhos latinos. ¿Mostramos que, apesar de nossas diferenças, podemos e devemos trabalhar juntos em questões nas quais tenhamos interesses em comum. Mostramos que não há nem grandes nem pequenos sócios na América, somos apenas companheiros, comprometidos em avançar numa agenda comum com desafios comuns¿, declarou.