Título: Cristina pede urgência no caso Ingrid
Autor: Figueiredo, Janaína; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 11/12/2007, O Mundo, p. 34

POSSE NA ARGENTINA: Presidente diz que problema de reféns na Colômbia é questão humanitária internacional

Alvaro Uribe se irrita com menção ao tema em discurso. Lula se oferece a tentar mediação com as Farc

BUENOS AIRES. Por essa o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, não esperava. Em seu primeiro discurso como presidente da Argentina, Cristina Kirchner se comprometeu a colaborar na busca de uma solução capaz de pôr fim ao seqüestro da ex-candidata presidencial colombiana Ingrid Betancourt, que já dura quase seis anos, aumentando ainda mais a pressão internacional sobre Bogotá. Um dia depois de o presidente Néstor Kirchner ter afirmado que seu país vai colaborar na busca de uma solução ao conflito entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a nova presidente do país reforçou ainda mais o compromisso da Argentina com a família Betancourt e com o governo do presidente francês, Nicolas Sarkozy. Nas últimas semanas, Paris intensificou sua campanha a favor da liberação de Ingrid, que também é cidadã francesa.

- Quero comprometer o esforço de nossa diplomacia, de nosso país e também pedir a Deus que ilumine o presidente da Colômbia para que possa chegar a uma solução - afirmou Cristina em seu discurso de posse, com o presidente Uribe na platéia.

Mãe de Ingrid chama Uribe de desalmado

A nova presidente da Argentina, que convidou a mãe de Ingrid, Yolanda Pulecio, para a posse, assegurou que os setores envolvidos na negociação não podem perder mais tempo.

- Sem que isto signifique uma interferência de nosso país em questões internas, existe uma questão humanitária internacional que nos exige esforço e vontade para não chegar tarde demais - assegurou Cristina.

Segundo informações confirmadas por fontes da delegação colombiana, Uribe ficou profundamente irritado pelo protagonismo do caso Betancourt durante a posse da nova presidente argentina. O presidente colombiano evitou se encontrar com seu colega venezuelano, Hugo Chávez, que atuou recentemente como mediador no conflito, mas terminou sendo afastado por decisão de Uribe. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu a colaboração do governo brasileiro ao presidente colombiano para tentar chegar a um acordo com as Farc. Segundo confirmou o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, o Brasil fez algumas propostas e se dispôs a ajudar a Colômbia na busca de uma solução ao antigo conflito com a guerrilha. Perguntado sobre o conteúdo das propostas de Lula, Marco Aurélio foi enfático:

- Essas questões ou se fazem de forma discreta ou não se fazem.

Hoje, Cristina receberá a mãe de Ingrid em uma de suas primeiras atividades oficiais como presidente. Yolanda Pulecio reforçou suas críticas ao presidente colombiano, que depois do encontro com Lula se negou a falar sobre o caso.

- (Néstor e Cristina Kirchner) Têm coração, alma, não como o presidente da Colômbia, que é um presidente totalmente desalmado. Durante seis anos roguei e expliquei que era necessário o diálogo e, cada vez que ele se aproxima, faz mais estrago - declarou Pulecio, que defende a continuidade da mediação de Chávez.

No encontro de ontem, Lula e Uribe não chegaram a um acordo sobre o assunto, mas, segundo Garcia, o presidente colombiano agradeceu a atitude do governo brasileiro e "nos demandará ajuda quando considerar necessário".

- Uribe expôs quais são as iniciativas do governo colombiano neste momento e agradeceu a colaboração do Brasil. Para o governo brasileiro, este tipo de questão não pode ser resolvido à margem do governo colombiano - afirmou o assessor do presidente brasileiro.

Segundo ele, "as Farc ainda não responderam à proposta de Uribe (de criar uma zona de encontro), se fosse assim ele teria nos comunicado".

- A Colômbia tem neste momento uma estratégia e nós estamos dispostos a colaborar. Veremos como as coisas avançam - insistiu Garcia.

Sarkozy pede ajuda à Argentina e ao Brasil

Tanto Lula como Kirchner receberam uma carta enviada pelo presidente Sarkozy, na qual o chefe de Estado francês solicitou a ajuda de ambos países nas negociações. Ontem, o presidente brasileiro conversou com o premier francês, François Fillon, presente na posse.

Lula e Uribe poderão voltar a conversar na próxima semana, durante a reunião de cúpula do Mercosul, em Montevidéu. Ontem, um pouco antes de voltar ao Brasil, Lula disse acreditar numa solução para a questão dos reféns das Farc.

- Essas coisas são problema da Colômbia e a Colômbia está tratando disso. Agora a Igreja Católica vai ajudar, e eu acho que vai dar tudo certo.

Uribe também se reuniu com o premier francês. Depois do encontro, o colombiano disse esperar que as Farc cedam à pressão internacional.

- Se ainda na guerrilha regem as idéias políticas, tomara que atendam às pressões internacionais, percebam as razões de ser das pressões internacionais e libertem os seqüestrados. Na Colômbia temos dor por esta tortura - afirmou.