Título: Bolívia: oposição rejeita referendo sobre Carta
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Fonte: O Globo, 11/12/2007, O Mundo, p. 34

Governadores fazem reunião de emergência e dizem que consulta popular não terá validade.

LA PAZ e SANTA CRUZ DE LA SIERRA. Governadores dos quatro departamentos da região mais rica da Bolívia, conhecida como Meia Lua, vão rejeitar a realização de um referendo sobre a nova Constituição e ameaçam decretar autonomia de forma unilateral no sábado caso o governo do presidente Evo Morales não anule o texto aprovado pela Constituinte no fim de semana.

- Foi realizada uma reunião de emergência na madrugada (de ontem) com os governadores de Pando, Beni, Tarija e Santa Cruz e ficou decidida a rejeição ao novo texto Constitucional, sem possibilidade de negociação sobre o tema - afirmou Juan Arias, membro do Comitê Cívico de Santa Cruz.

Segundo ele, a rejeição à nova Carta implica também numa rejeição à realização do referendo para a aprovação do texto:

- Como se trata de uma Carta ilegal, consideramos que não é pertinente uma consulta para aprová-la ou rejeitá-la. Esse referendo não deverá ter validade nos departamentos da Meia Lua - disse.

Pelo menos 460 pessoas estão em greve de fome nos departamentos opositores, entre eles o presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Branko Marinkovic.

Trabalhadores organizam marcha em protesto

A reação dos governadores é mais um desafio dos departamentos opositores a La Paz e põe em xeque até mesmo o acordo feito para a realização do referendo sobre o mandato presidencial. Segundo líderes do Comitê Cívico de Santa Cruz, se Morales insistir em promulgar a Carta, os departamentos podem não mais aceitar qualquer proposta feita pelo governo central.

Segundo o presidente da Central dos Trabalhadores do departamento de Santa Cruz (COD), Edwin Fernández, está sendo organizada uma grande manifestação em Santa Cruz de la Sierra para esta semana contra a nova Carta.

- Esta será a nossa última manifestação pacífica contra a Constituição. Pretendemos convencer nossos colegas a suspenderem a greve de fome pois precisamos de pessoas com boa saúde e bom estado mental para nos manifestarmos em breve de forma mais contundente - disse Fernández.

Já o presidente Evo Morales exortou a oposição a respeitar a democracia e a unidade do país e disse que existe "uma conspiração internacional" contra seu governo, "encabeçada pelos Estados Unidos".

- Não estou assustado, sei onde me meti. Existe uma conspiração internacional contra nosso governo e na liderança está a embaixada dos Estados Unidos. Para o governo dos Estado Unidos o melhor seria que respeitasse a democracia - disse.