Título: FH: governo negocia com arrogância
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 12/12/2007, O País, p. 3

Sem citar Lula, tucano diz que não é preciso desespero para votação.

Arrogante e precisando tomar um banho de realidade. Com essas críticas ao governo Lula, o ex-presidente Fernando Henrique comentou ontem, no Rio, a negociação sobre a prorrogação da cobrança da CPMF. O adjetivo de arrogante veio em resposta ao ataque recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que quem está contra a CPMF é sonegador. Para Fernando Henrique, é obrigação do governo lutar pelos seus interesses:

- Mas não precisa ficar desesperado. Uma vez, eu era presidente e tivemos que votar a CPMF só em janeiro. Não fiquei desesperado e não xinguei ninguém. O governo precisa tomar um banho de realidade e está muito arrogante. Chamou de sonegadores quem estava contra o imposto - disse o ex-presidente.

Para ex-presidente, há excesso de arrecadação

Perguntado se a contribuição é imprescindível para a administração do país, o ex-presidente disse que os dados indicam que há excesso de arrecadação. E que somente 40% do imposto vão para saúde.

- O governo nomeou muita gente. Às vezes é necessário, às vezes, não. Mas há um excesso de arrecadação. Temos que discutir se vai precisar da CPMF. Se pode reduzir a CPMF. O que fazer com a verba da CPMF? Essa é a discussão que interessa, e não eu ganho ou eu perco.

Fernando Henrique evitou fazer prognósticos sobre a votação da CPMF, dizendo não saber o que acontecerá e se a votação será transferida para janeiro ou não:

- Quem sabe o governo vem com uma proposta mais realista e menos impositiva. A oposição não vai ceder no grito. Aí não pode.

Fernando Henrique disse que os números do governo sobre a CPMF não são claros.

- Não confiamos nos números do governo. Como não se joga claro, fica todo mundo achando que é blefe. E, blefe por blefe, não se vota.

Nm recado indireto aos governadores de Minas, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra, o ex-presidente afirmou que os governadores tucanos não podem pressionar a bancada do partido pela aprovação do tributo:

- Nossos governadores não podem pressionar a bancada por causa dos interesses dos seus estados, por mais que sejam legítimos. A bancada também tem seus interesses, que também são legítimos.