Título: Após xingar, Lula pede ajuda ao DEM
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 12/12/2007, O País, p. 3

CONFRONTOS NO CONGRESSO

No desespero para aprovar a CPMF, presidente vai até Arruda, sem sucesso.

Num ato extremo, que surpreendeu aliados e a oposição, para tentar evitar a derrota hoje na votação da prorrogação da CPMF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apelou ontem ao apoio do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do DEM. Usando como pretexto a discussão de projetos de interesse do Distrito Federal, Lula cancelou parte da agenda prevista e foi pessoalmente, sem divulgar, ao encontro de Arruda, duas semanas depois de ter atacado duramente o DEM e de afirmar que só o partido e os sonegadores eram contra a CPMF.

Deixando a virulência de lado, Lula foi obrigado a recuar e pediu ajuda ao único governador do DEM. Na conversa, prometeu encaminhar ontem mesmo ao Senado o projeto do programa Brasília Integrada, que depende do aval do Tesouro para um empréstimo externo de US$272 milhões, e apressar a liberação, na Caixa Econômica Federal, de R$180 milhões do programa Pró-Moradia.

Sem sucesso. Mesmo com a negativa da direção do DEM e do PSDB de rever suas posições contra a CPMF, o governo parte hoje para a votação, sem a garantia dos 49 votos, para ganhar ou para perder. Até o início da noite, o Planalto tinha uma contabilidade desfavorável ao governo: dos 49 votos necessários, só teria 46. Numa jogada de risco, o Planalto tentaria mudar de ontem para hoje três votos para conseguir levar a proposta ao plenário do Senado.

A ameaça do governo é que os senadores que votarem contra passarão a ser maltratados a partir do ano que vem, com a não-liberação de emendas, por exemplo. Mas há líderes governistas que acreditam que o governo não terá coragem de pôr a CPMF em votação hoje se não tiver a certeza dos votos, e que, nesse caso, deixaria a votação para 2008. Mas o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que a intenção é votar ainda este ano, argumentando que o Orçamento de 2008 foi elaborado levando em conta a receita de R$40 bilhões da CPMF. O Orçamento ainda não foi votado pelo Congresso, à espera da aprovação da CPMF.

- Votamos amanhã (hoje), para ganhar ou para perder. Se a CPMF for rejeitada, que os senadores que a rejeitarem assumam a responsabilidade - disse Jucá.

Na conversa com Arruda, café e pão com ovo

Foi esse cenário adverso que fez com que Lula fosse até a residência oficial de Arruda para tentar a liberação de pelo menos três votos do DEM. Para surpresa de Arruda, ontem de manhã, Lula telefonou e perguntou se havia café na residência do governador. Durante a conversa, de uma hora, Lula comeu pão com ovo caipira e frutas. A assessoria de imprensa do Planalto não confirmava o encontro e dizia que não tinha autorização para informar onde Lula estava.

- Sugeri ao presidente que retomasse novamente as negociações sobre a CPMF e que estava disposto a ser a ponte para viabilizar um diálogo construtivo entre o governo e a oposição - disse Arruda, confirmando o encontro.

Lula pediu a interferência de Arruda para a direção do DEM liberar os votos dos senadores Jonas Pinheiro (MT), Jayme Campos (MT) e Adelmir Santana (DF). Em outra frente, Lula pediu ao governador que convença a cúpula do DEM a não processar os senadores Romeu Tuma (SP), que trocou o partido pelo PTB, e Cesar Borges (BA), que migrou para o PR, caso eles votem pela prorrogação do imposto. No Palácio do Planalto, a avaliação é de que os dois senadores estão contrários à CPMF por causa da ameaça do DEM. Eles já deixaram o partido, mas podem ser processados com base na fidelidade partidária.

A decisão de Lula de procurar o DEM foi uma mudança significativa. Isso porque recentemente o presidente fez várias críticas ao partido. Numa solenidade no Espírito Santo, no dia 29 de novembro, Lula disse que o DEM torce todos os dias para "as coisas não darem certo no país, porque eles governaram durante 500 anos e não conseguiram fazer o que o país queria que fosse feito". O presidente afirmou que, além do DEM, apenas os sonegadores têm medo da CPMF.

Ao mesmo tempo em que pediu apoio de Arruda, Lula deu sinal verde para projetos de interesse do governador. Apesar das ofertas, Lula não conseguiu o que queria.

Para evitar que um coro de "derrotado" se espalhasse, Jucá correu ao plenário para pedir que todos ficassem de prontidão, quando nos bastidores já afirmava que a votação seria mesmo hoje. Jucá passou boa parte do dia no Planalto, onde foi montado um verdadeiro QG da CPMF no gabinete do ministro das Relações Institucionais, José Múcio, no atendimento de pedidos de parlamentares e de governadores. O líder do DEM, Agripino Maia (RN), cobrou a votação ontem mesmo. A proposta foi posta em pauta pelo presidente interino, Tião Viana (AC), mas o governo retirou o quórum.