Título: No primeiro mandato, um tormento para Lula
Autor: Vasconcelos, Adriano
Fonte: O Globo, 12/12/2007, O País, p. 11

CONFRONTOS NO SENADO: Ex-relator da CPI dos Bingos também não é bem-visto pela cúpula peemedebista no Senado.

Garibaldi Alves comandou investigações contra dois homens fortes do primeiro governo federal: Dirceu e Palocci.

BRASÍLIA. Fantasma que aterrorizou o primeiro mandato do presidente Lula, o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) ocupa agora posição que obriga os governistas a paparicá-lo pelo próximo ano. Embora nunca o tenham declarado inimigo público, o PT e o Planalto não morrem de amores por ele. Quando foi relator da CPI dos Bingos, em 2005 e 2006, o senador teve uma relação tumultuada com o governo, que atribui a ele parte da culpa pelo vale-tudo na comissão. Por investigar diversas denúncias contra o governo e o PT, poucas vezes relacionadas às atividades ilegais dos bingos, a comissão ficou conhecida como a "CPI do fim do mundo".

Apesar do bom relacionamento com quase todos os seus pares, Garibaldi ficou marcado por comandar investigações contra os dois principais nomes do primeiro governo Lula: os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil), acusado de envolvimento no esquema do mensalão; e Antônio Palocci (Fazenda). A atuação da CPI contra Palocci - acusado de irregularidades em sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto e de participar da quebra do sigilo bancário do caseiro que o denunciara - foi decisiva para a queda do então homem-forte do governo.

Outras duas investidas da CPI magoaram diretamente o presidente Lula. A primeira investigou seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, por suposto envolvimento num esquema de caixa dois do PT em Santo André, em 2002. A segunda apurou se o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, amigo de Lula, falava a verdade ao dizer que pagou do próprio bolso um empréstimo de R$29 mil feito pelo PT a Lula antes da eleição dele.

Senador pediu indiciamento de Palocci e Okamotto

O relatório final da CPI, de autoria de Garibaldi, acabou ficando no meio do caminho. Depois de intensa negociação com governo e oposição, o senador pediu ao Ministério Público o indiciamento de Palocci e Okamotto, mas em cima da hora retirou os pedidos relacionados a Dirceu e Carvalho. Lula esperou para dar o troco em Garibaldi na eleição passada, quando apoiou a reeleição da governadora do Rio Grande do Norte, Vilma de Faria, do PSB, que o derrotou numa acirrada disputa em que o senador peemedebista fechou um aliança com o DEM.

O comportamento independente de Garibaldi nunca fez muito sucesso também junto à cúpula peemedebista no Senado. Seu primeiro confronto com o partido foi no início do ano, ao declarar apoio à candidatura do líder do DEM, senador José Agripino (RN), quando este decidiu disputar o comando da Casa com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele voltou a entrar em rota de colisão com os renanzistas ao anunciar seu voto a favor da cassação do colega na votação do primeiro processo por quebra de decoro. A irritação do grupo aumentou quando ele anunciou interesse em disputar a presidência da Casa antes mesmo da renúncia de Renan.

Aos 60 anos, Garibaldi é considerado bastante experiente pelos colegas. Anda devagar e fala devagar. Mas é rápido quando o assunto é articulação política. Jornalista e advogado, já foi três vezes deputado estadual e prefeito da capital entre 1986 e 1988. Fez sua estréia no Senado em 1991, mas renunciou ao mandato em 1994 para ser governador, sendo reeleito em 1998. Está no seu segundo mandato de senador.

- Ele é discreto e, com discrição, conseguiu o apoio da bancada e da oposição. E não é bobo, porque já foi prefeito, governador e será o presidente do Senado até janeiro de 2009 - diz o líder do PSB, senador Renato Casagrande (ES).

Senador nega denúncia de sociedade em rádio

A eleição de Garibaldi para o comando do Senado pode obrigá-lo a dar mais explicações sobre a denúncia de que seria sócio da Rádio Cabugi do Seridó, o que é proibido a parlamentares. Sua família é proprietária de uma rede de comunicação no estado. Sua assessoria informa, entretanto, que o contrato de criação da rádio foi assinado em março de 1979, mas ela nunca chegou a funcionar, porque a concessão foi cassada pelo regime militar. Em 2003, o senador teria sido notificado pela Receita Federal por não incluir a participação na rádio em suas declarações de renda, embora sua cota esteja avaliada em R$0,01. Garibaldi teria pedido baixa da empresa à Junta Comercial.