Título: Garibaldi deve ser eleito hoje presidente do Senado
Autor: Vasconcelos, Adriano
Fonte: O Globo, 12/12/2007, O País, p. 11

CONFRONTOS NO CONGRESSO: Para obter apoio da oposição, senador assume compromisso de manter independência.

Primeiro desafio do peemedebista será presidir, em seguida, a sessão de votação da prorrogação da CPMF.

BRASÍLIA. Com o apoio pouco entusiasmado do PT, mas aceito sem maiores restrições pela oposição, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) deve ser eleito hoje presidente do Senado para um mandato tampão de pouco mais de um ano. Com isso, a cadeira de Renan Calheiros (PMDB-AL) acabará sendo entregue a antigo desafeto dele no partido. Diante da resistência do ex-presidente José Sarney a concorrer ao cargo e do veto do Palácio do Planalto ao nome de Pedro Simon (PMDB-RS), Garibaldi venceu ontem com folga a disputa na bancada peemedebista por 13 votos a seis, depois que outros três concorrentes - Valter Pereira (MS), Neuto de Conto (SC) e Leomar Quintanilha (TO) - desistiram de suas candidaturas.

A eleição está marcada para o meio-dia, em sessão extraordinária. O primeiro desafio de Garibaldi será presidir a sessão de votação da emenda constitucional que prorroga a cobrança da CPMF, remarcada para uma sessão logo após sua eleição.

"Estou sujeito a ter uma fadiga eleitoral"

Ainda dependendo do referendo dos colegas em plenário, onde precisará obter no mínimo 41 votos para ser eleito, Garibaldi reiterou ontem seu apoio à prorrogação da CPMF, mas deixou claro que atuará com cuidado na condução da votação da matéria. Ele não disfarçou sua preocupação com a possibilidade de retaliações de parlamentares contrários à proposta defendida pelo governo:

- Já havia anunciado ao presidente Lula meu apoio à CPMF. Se eu puder ajudar, ajudo. Mas com isso estou sujeito a ter uma fadiga eleitoral.

Seu palpite estava certo. Tanto que, logo em seguida ao anúncio da escolha da bancada do PMDB, Garibaldi foi obrigado a assumir um compromisso público com o PSDB e o Democratas de manter a independência do Senado em relação ao Executivo, sob pena de a oposição lançar um candidato próprio. Entre as exigências feitas pelos tucanos e democratas estão uma série de medidas moralizadoras, contidas numa "Carta de princípios". Entre as medidas, estão o rodízio entre os partidos nas relatorias de projetos de interesse do país e a votação dos vetos presidenciais.

- Não vou fazer oposição ao Palácio do Planalto. Vou preservar a independência dos poderes. A oposição não pode querer que eu faça oposição ao governo. Quem tem que fazer oposição ao governo é a oposição, não é o presidente do Senado - ponderou Garibaldi.

Ele preferiu não discutir ontem temas mais polêmicos como, por exemplo, a idéia defendida por alguns colegas de acabar com verba indenizatória de R$15 mil mensais que cada parlamentar tem direito. Ao anunciar o apoio de seu partido à candidatura de Garibaldi, o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), o advertiu:

- Espero que ele (Garibaldi) cumpra os compromissos assumidos conosco. Caso contrário, transformaremos seu céu de brigadeiro em um verdadeiro inferno.

A escolha de Garibaldi foi recebida com resignação pelo PT, que só aceitou a indicação do PMDB após constatar que a outra alternativa, no caso o nome do senador Pedro Simon, poderia representar um fator de instabilidade ainda maior para o governo Lula.

- A bancada do PT votará por unanimidade a indicação do PMDB - limitou-se a comentar a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC).

Na verdade, parte da bancada petista não digeriu até hoje a luta que Garibaldi travou com o governo ao longo de 2005 e 2006, quando foi relator da CPI dos Bingos, principal palco de ataque da oposição ao governo no primeiro mandato do presidente Lula. Com a ajuda de seu primo, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), Garibaldi vinha tentando reconstruir as pontes de diálogo com o PT e o governo.

- O governo não pode ser movido pelo ressentimento. Nunca acreditei que o que aconteceu na CPI dos Bingos viesse a exercer pressão [sobre a decisão do Senado], até porque ela seria rechaçada pela Casa - minimizou Garibaldi