Título: Os interesses de Serra e Aécio
Autor: Camarotti, Gerson; Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 13/12/2007, O País, p. 8

Presidenciáveis tucanos temeriam perda de arrecadação de R$40 bi por ano.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. De olho na possibilidade de vitória tucana em 2010, os dois presidenciáveis do partido, os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), pressionaram o PSDB até o último momento para que a bancada no Senado aprovasse a CPMF. Reservadamente, fazem um cálculo político semelhante: avaliam que seria muito difícil manter o equilíbrio fiscal com a subtração de R$40 bilhões por ano. Em conversas com tucanos, eles argumentam que temem, caso um deles seja eleito, receber um governo com as contas desajustadas.

Os dois optaram por uma postura pragmática. Segundo um influente líder do partido, Serra e Aécio também dependem de uma boa parceria com o governo federal para que suas administrações tenham visibilidade e recursos necessários para os próximos três anos. Um eventual boicote do Palácio do Planalto, destacou esse tucano, poderia prejudicar as pretensões eleitorais dos dois governadores.

Senadores tucanos reconhecem que a responsabilidade dos governadores do PSDB acaba forçando uma postura diferente dos parlamentares, que na oposição precisam intensificar o discurso.

- Tenho falado com Serra e Aécio o tempo todo. A argumentação deles é legítima e precisa ser levada em conta pelo partido - observou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

Os argumentos de Serra e Aécio foram reforçados pelos outros três governadores tucanos: Yeda Crusius (RS), Teotônio Vilela (AL) e Cássio Cunha Lima (PB). Eles governam estados que enfrentam problemas econômicos e temem perder recursos - situação bem diferente de Serra e Aécio, porém. Foi com esse poder de pressão que o Planalto conseguiu o apoio dos governadores tucanos.

Serra voltou a defender ontem o repasse integral da CPMF para a saúde. Disse que o governo federal deveria se entender com a oposição para que o recurso viesse a financiar exclusivamente o setor, mas preferiu não polemizar, e encerrou a entrevista quando indagado sobre se o seu partido estaria equivocado ao fechar questão contra a prorrogação do tributo:

- Acho que, se toda a CPMF fosse destinada para a área de saúde, além dos impostos que hoje já vão para a saúde, poderia se construir um entendimento, caso o governo se dispusesse a fazer isso, para a saúde sair da crise. Mas os desdobramentos (da votação de ontem no Senado), eu não tenho condição de prever.

A enfática posição de Serra de que os estados não podem ficar sem o recurso é vista por tucanos paulistas como estratégia política, quando confrontada a situação do governo paulista com os demais, a maioria com grande buraco nas contas públicas. O secretário estadual da Fazenda, Mauro Ricardo Machado Costa, anunciou anteontem um pacote de R$41,5 bilhões em investimentos para diversos setores, inclusive para a saúde.

Ainda que não dependa de recursos federais para sua administração, o governador paulista assumiu posição contrária à da bancada no Senado. Ex-ministro da Saúde, Serra tem dito a interlocutores que fazer campanha favoravelmente à CPMF é uma questão de coerência política, dadas as dificuldades na área da saúde pública.

- Serra foi ministro da Saúde e conhece as necessidades do setor. É coerente ele fazer a defesa da saúde pública - disse o deputado baiano Jutahy Magalhães, um dos mais próximos de Serra. (Gerson Camarotti e Flávio Freire)